Considerado o poderoso chefão da música brasileira, André Midani morreu na noite de quinta-feira (13), aos 86 anos, no Rio de Janeiro. O produtor musical e executivo de grandes gravadoras lutava contra um câncer e estava internado na Casa de Saúde São Vicente, conforme informações confirmadas pelo filho dele, Phelippe, ao G1.
André Midani nasceu em 25 de setembro de 1932 em Damasco, na Síria. Ainda criança, foi morar na França. A mudança para o Brasil ocorreu em 1955.
Nos 50 anos seguintes, à frente de gravadoras como Odeon, Phonogram e Warner, ele acompanhou o fenômeno dos festivais, a consolidação da MPB e a explosão do rock brasileiro como um dos principais artífices dos bastidores. Ainda foi um dos responsáveis pela projeção das carreiras de sucesso de artistas do peso de Caetano Veloso, Chico Buarque, Elis Regina, Gal Costa, Gilberto Gil, Jorge Ben (ainda sem o Jor), Maria Bethânia e Ney Matogrosso. Bandas como Titãs e Barão Vermelho também passaram pelas mãos dele.
Na década de 1990, Midani foi morar em Nova York. Lá, tornou-se presidente da Warner para a América Latina. O retorno para o Brasil ocorreu nos anos 2000.
Nos últimos anos, a trajetória de Midani na indústria fonográfica virou tema de livro e de uma série de TV. Em entrevista publicada em 2015 em função dos projetos , o produtor contou sobre o encontro com a turma da bossa nova.
— A gente só percebeu que havia um movimento depois que aconteceu. Um dia, o fotógrafo Chico Pereira me disse que eu deveria conhecer uns amigos dos filhos dele que estavam fazendo uma música diferente. Ele organizou a reunião e, quando cheguei na porta, vi reunidos Roberto Menescal, Carlinhos Lyra, Nara Leão e companhia. Com minha referência cultural francesa, achei que o que esses meninos estavam fazendo era parecido, não igual, com o que se fazia na França para a juventude. No Brasil, não havia música brasileira para a juventude. Ao mesmo tempo, Aloysio de Oliveira, diretor artístico da Odeon, me convidou para ir na casa dele porque queria me mostrar algo. Era nada menos do que João Gilberto.
Na mesma ocasião, o produtor falou sobre a virada da indústria musical da MPB para o rock brasileiro, já nos anos 1980.
— Para uma pessoa desavisada ou muito jovem, que não viveu aquela época, esse negócio de rock parece que aconteceu de um dia para o outro. Mas não foi assim. Antes, houve Mutantes, Novos Baianos, Raul Seixas. Caetano e Gil também tinham uma postura de roqueiros, no sentido de que usaram a guitarra elétrica como contestação, como uma postura anárquica inclusive, de quem fugia aos partidos políticos convencionais. Ainda naquela época, quando me perguntaram como eu via o futuro da música brasileira, dizia que era o rock. Então, já havia esse espírito contestador em muita gente. A ruptura dos anos 1970 para 80 foi uma evolução, feita por uns meninos que romperam com a raiz da música brasileira.
Midani ainda disse que era uma “bogagem” pensar que houve perda de qualidade na música popular nas últimas décadas.
— A ideia de perda de qualidade representa o pior da elite brasileira - que, aliás, não significa mais nada neste grande país. Qualidade é algo subjetivo. Música existe para quê? Para trazer felicidade às pessoas, seja no seu amor ou no seu desamor. Então, a qualidade é irrelevante porque, sim, a dita falta de qualidade dá prazer, sono, força, tudo que é bom para determinada pessoa. Quem sou eu para dizer que não tem qualidade?