Em 2015, quando Cristiano Araújo morreu, alguns jornalistas e milhões de pessoas, nos tribunais das redes sociais, questionavam a comoção em torno da morte do goiano, que levou milhares de pessoas ao seu velório, em Goiânia. Na época, os questionamentos surgiam por, na avaliação dessas pessoas, Cristiano ser um “cantor de uma música só” e desconhecido no país, como definiu Zeca Camargo, em uma infeliz crônica, na qual ironizava a comoção nacional diante da morte do cantor.
Ontem, o clichê do “cantor de uma música só” voltou à tona, por causa da também trágica morte de Gabriel Diniz. Em primeiro lugar, é até desumano afirmar tal coisa no momento em que os fãs e o meio choram a morte de um jovem artista de um dos gêneros mais populares, senão o mais popular, do país: o sertanejo. Seria, no mínimo, falta de respeito com a memória de Gabriel.
Para sustentar a afirmação de que Gabriel Diniz não era “cantor de um hit só”, basta analisar rapidamente sua trajetória.
Aos 28 anos, ele teve o chamado “estouro nacional”, no segundo semestre de 2018, com Jenifer. Claro, é natural que um artista que está mais em começo de carreira fique marcado, em alguns momentos, por um grande hit, o tal ponto de partida para o sucesso. Até aí, nada demais.
Antes de Jenifer, porém, milhões de pessoas que frequentam festivais sertanejos, que curtem playlists nos aplicativos, que ouvem rádios populares, já conheciam Gabriel Diniz. Como conhecem bem nomes que você, leitor, provavelmente não conheça – Marcia Felippe, Xand Avião e Mano Walter. Em média, de cada cem músicas tocadas no país, principalmente nas rádios, 70% são sertanejas, ou de gêneros que misturam sertanejo e algum outro ritmo, como era o caso de Gabriel, que combinava forró e sertanejo. Atualmente, o gênero domina o país, quer a gente queira, quer não.
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Antes de Jenifer, Gabriel já tinha canções com audiência forte e parcerias de respeito, casos de Paraquedas (com Jorge & Mateus, 19 milhões de visualizações no YouTube)
e Acabou Acabou (com Wesley Safadão, 66,8 milhões de visualizações). O escritório que cuida da carreira de Safadão, aliás, é o mesmo que cuidava de Gabriel. Após sua morte, a gravadora de Gabriel, a Universal Music, uma das maiores do mundo, divulgou nota, assinada pelo presidente da companhia, Paulo Lima, na qual lamentava a perda precoce do cantor e o definia como “um dos maiores artistas em ascensão no Brasil, talentoso demais”.
Questionado pelo site UOL, em janeiro deste ano, sobre ser “cantor de uma música só”, Gabriel rechaçou a ideia, afirmando que já tinha uma história anterior ao hit, e que seguiria tendo uma carreira consistente. A primeira afirmação é absolutamente verdadeira. A segunda, não teremos como saber, mas, pelo andamento de sua carreira, se confirmaria, na minha visão. Para os milhões de fãs do gênero, que consomem esse produto chamado sertanejo, ele não era cantor de uma música só. Se você pensa assim, leia, pesquise, procure saber. Mesmo que não venha a gostar da música do Gabriel, pelo menos, você não sairá por aí difundindo informações erradas ou opiniões preconceituosas.