Em 2016, quando se apresentou pela primeira vez em Porto Alegre, Jaloo recém havia assistido a Cidade dos Sonhos (2001). Após o show no Opinião, o cantor, produtor musical, ator, diretor, roteirista e montador lembrou da antológica sequência do filme de David Lynch conhecida como “No Hay Banda”, responsável por lançar as duas protagonistas – e o espectador – numa delirante reversão de rumo da narrativa. No palco de um teatro, o mestre de cerimônias apresenta o som de diferentes instrumentos sem nenhum músico a tocá-los. É tudo ilusão.
À época, as cenas do cultuado longa-metragem não saíam da mente do cantor paraense:
– Lembrei da performance e de como a vida é engraçada. Porque, na época, eu era minha própria banda – afirma o cantor, que volta à Capital para se apresentar no Agulha, sábado próximo (9), dividindo o palco com outros músicos. Os ingressos já estão esgotados.
Aos 31 anos, Jaime de Souza Melo Junior, nome de registro do artista, não quer mais caminhar sozinho. Entre maio e junho, lança o seu segundo disco, intitulado ft, abreviação de “featuring” (“apresentando/com a participação de”):
– Tudo que faço, por mais imaginativo e fantástico, sempre vai ter um pé cravado na realidade. É o que o nome já diz. Um disco sobre parcerias – explica Jaloo, que ficou conhecido por sua incursão no indie eletrônico com influências do tecnobrega.
Porto Alegre será a primeira parada da nova turnê de Jaloo, intitulada Mestiço. Lançada em 21 de fevereiro, a faixa Dói D+ estará no novo álbum e será mostrada ao vivo pela primeira vez no palco do Agulha. Colaboração do produtor curitibano Nave, que já trabalhou com nomes como Karol Conka, Emicida e Marcelo D2, a música soma-se às canções Say Goodbye, parceria com a DJ e produtora paulistana BadSista, e Céu Azul, ao lado da cantora MC Tha, para dar forma ao novo disco. Essas faixas, bem como Cira, Regina e Nina, composta por Lucas Santtana e que ganhou uma versão dançante nas mãos de Jaloo, devem marcar presença no repertório do show.
Insight, Ah! Dor!, Chuva e Last Dance, músicas do elogiado álbum de estreia do paraense, #1 (2015), que teve direção artística do gaúcho Carlos Eduardo Miranda (1962-2018), também reforçam o show. É com carinho, mas sem nostalgia, que o artista analisa aquele trabalho, no qual mescla sons regionais e beats eletrônicos:
– Olho pra ele (o disco) agradecendo tudo que me trouxe, mas com realismo suficiente para saber que posso ir além. É um recorte do tempo, de um momento lindo, mas que passou. Hoje eu celebro emoções bem diferentes.
Entre as conquistas que Jaloo festeja estão uma turnê na Europa agora em março, com shows em cidades de Portugal e na capital alemã, Berlim, e um espetáculo inédito no Rock in Rio, em outubro – subirá no Palco Sunset do megafestival ao lado de Dona Onete, Fafá de Belém, Gaby Amarantos e Lucas Estrela, todos paraenses.
Nascido em Castanhal, na região metropolitana de Belém, Jaloo mora há quase oito anos na capital paulista e, aos poucos, vai perdendo o aposto “artista paraense”:
– Se vejo os gráficos de cidades que mais consomem minha música, Belém perde para São Paulo, Recife, Fortaleza e Rio. Amo minha história exatamente como ela é, sem exageros e sem bandeiras levantadas por outro propósito senão a livre expressão dos meus sentimentos.
JALOO – MESTIÇO
Sábado, às 22h, no Agulha
(Rua Conselheiro Camargo, 300, bairro São Geraldo), em Porto Alegre.
Classificação: 16 anos.
Ingressos: esgotados.