Após o presidente Jair Bolsonaro (PSL) publicar na terça-feira (5) o vídeo de uma música em resposta a Proibido o Carnaval, parceria de Daniela Mercury e Caetano Veloso, a produtora artística Paula Lavigne se manifestou.
Em resposta ao tuíte de Bolsonaro, a mulher de Caetano sugeriu que fosse composta uma música em homenagem a Fabrício Queiroz, ex-assessor do senador Flávio Bolsonaro, que movimentou R$ 1,2 milhão entre janeiro de 2016 e janeiro de 2017.
Em outra réplica à publicação, Paula citou que o povo estaria cantando xingamentos ao presidente e postou um vídeo com uma manifestação de foliões no Carnaval de Salvador.
Na música publicada por Bolsonaro, um cantor não identificado rebate críticas feitas por Daniela Mercury e Caetano Veloso em Proibido o Carnaval, videoclipe protagonizado pelos artistas e lançado há um mês. A canção, que remete ao jingle da campanha presidencial de José Maria Eymael (PSDC), não teve seu título divulgado.
O vídeo foi postado na conta oficial do Twitter de Bolsonaro. Na publicação, o presidente evita mencionar os dois cantores. "Dois 'famosos' acusam o Governo Jair Bolsonaro de querer acabar com o Carnaval. A verdade é outra: esse tipo de 'artista' não mais se locupletará da Lei Rouanet", escreveu.
No clipe de Proibindo o Carnaval, há referência às declarações controversas da ministra da Mulher, Família e Direitos Humanos, Damares Alves, de que meninos deveriam usar azul e meninas rosa. Na letra, Caetano e Daniela falam das duas cores e tratam de liberdade sexual em trechos como "Abra a porta desse armário/ Que não tem censura pra me segurar" e "Minh'alma não tem roupinha/ Minh'alma não tem caixinha/ Minh'alma só tem asinha".
A produção ainda homenageia o deputado federal eleito pelo PSOL Jean Wyllys, que decidiu abrir mão do cargo e sair do país por causa de ameaças de morte contra ele e sua família. Ao final do vídeo, aparece a mensagem: "Dedico este videoclipe ao meu amigo amado e incansável guerreiro Jean Wyllys. Estamos te esperando de volta: o Carnaval não está proibido! Axé!!!".
A marchinha compartilhada por Bolsonaro diz que "quem quiser brincar, brinque com seu dinheiro / Nosso Brasil vem primeiro é ordem do capitão". A canção também ressalta que "tem gente ficando doida sem a Lei Rouanet" e que o "Carnaval não está proibido". No fim, o cantor diz: "Entendeu, Caetano? Entendeu, Daniela Mercury? Chupa. Bom Carnaval para vocês. Sem dinheiro do povo. É isso aí".
Tréplica de Daniela
Em comunicado, Daniela Mercury respondeu lamentando que o presidente não tenha entendido a letra da canção e que, nessa declaração, há uma distorção muito grave sobre a Lei Rouanet.
"Parece que ela (a lei) ainda não foi compreendida. Por isso, me coloco à disposição para explicar como funciona o passo a passo dessa lei. E aproveito para tranquilizá-lo. Usei muito pouco de verba pública de impostos da Lei Rouanet em cada projeto que tive aprovado", escreveu a cantora.
Daniela fez questão de enumerar os valores da Lei Rouanet que a ajudaram a oferecer shows e trios elétricos gratuitos à população: "Essa fake news sobre a Lei Rouanet criada na eleição não pode continuar sendo usada para desmerecer o trabalho sofrido e suado dos artistas brasileiros."
A artista defendeu ainda a importância da arte para a economia brasileira, afirmando que uma música dela, O Canto da Cidade, ajudou a levar mais 500 mil turistas a Salvador: "A arte, além de tudo, tem um valor imensurável e o retorno do nosso trabalho para a sociedade, para o turismo, para a economia é gigante (...). Quando se ataca a arte de um país, quando se ataca os "artistas" brasileiros, se ataca a alma do povo desse país".