O jornal New York Times causou barulho ao decretar, ainda em 2017, que as mulheres faziam o melhor rock da atualidade. Em 2018, foi a vez da Fender anunciar que eram elas quem estavam salvando o mercado das guitarras. E, ao final do ano, as listas de melhores discos encerraram a discussão. No topo de muitas estava o segundo álbum de Courtney Barnett, uma das mulheres creditadas por renovar o bom, velho e machista rock ´n´ roll. Em pleno auge da carreira, a cantora, guitarrista e compositora australiana faz seu primeiro show em Porto Alegre.
O bar Opinião recebe a artista nesta sexta-feira (22/2), às 21h, um dia depois do outro show que faz no Brasil, em São Paulo (onde já se apresentou em 2016). Será a chance de conferir ao vivo por que o seu som conquistou não apenas a crítica musical, mas também fãs como Barack Obama e Jimmy Fallon, entre outros figurões. Com apenas 31 anos, Courtney faz bem o que tem se tornado cada vez mais raro: um rock direto, sem pirotecnias.
Sempre de camiseta e cabelo bagunçado, mistura grunge, indie e folk em melodias simples e letras que expressam a ansiedade dos millennials. Seus versos descrevem momentos banais como encarar o teto em uma noite insone (An Illustration of Loneliness (Sleepless in New York)) e se perguntar, não sem uma boa dose de ironia, se a cor está mais para "off-white ou creme". O estilo chamou a atenção desde o primeiro hit, Avant Gardener, no qual cantava, do seu jeito falado e arrastado, sobre ter um ataque de asma enquanto cuida do jardim. Por trás das cenas mundanas, surgem pequenas epifanias e angústias existencialistas.
– É uma tentativa de reparar nas coisas pequenas e ter gratidão por elas. Existe uma real beleza nos momentos que parecem insignificantes – comenta a artista, por telefone, de Auckland, na Nova Zelândia.
Courtney escreve desde os 10 anos e toca guitarra desde os 18. Quando Avant Gardener ganhou atenção internacional, tinha apenas 25. A música entrou para o EP duplo A Sea of Split Peas, em 2013. O primeiro álbum, Sometimes I Sit and Think, and Sometimes I Just Sit, foi aclamado como um dos melhores de 2015 por veículos como NME, Pitchfork, Rolling Stone e Spin, além de ser indicado ao Grammy, na categoria Artista Revelação. No segundo disco solo, Tell Me How You Really Feel, de 2018, Courtney reduziu a dose de sarcasmo para assumir um tom mais íntimo, como em Need a Little Time Out e a sua favorita, Sunday Roast.
– Gosto da história atrás de Sunday Roast, é sobre comunidade, amizade e vulnerabilidade. Comecei a escrevê-la quando era adolescente, depois retomei.
Courtney também expressou seu feminismo em músicas como Nameless, Faceless e I'm Not Your Mother, I'm Not Your Bitch.
– Quando vejo meninas novas na plateia acho ótimo – diz.
Para ela, o avanço das mulheres na música está dentro de um movimento maior de diversificação:
– Mulheres, pessoas não binárias, trans e queer, lutaram por espaço e reconhecimento nos últimos anos, e isto está aparecendo agora. É uma coisa incrível. É claro que gênero não importa na hora de compor, mas é interessante ver tanta coisa diferente
e boa sendo feita – reflete Courtney, que é casada com a guitarrista Jen Cloher.
Em Porto Alegre, Courtney promete tocar canções do EP e dos dois álbuns que, segundo ela, tornam-se mais "soltas, altas e selvagens" quando executadas ao vivo, ao lado de um baterista e um baixista. Também promete que não faltarão os sucessos Pedestrian at Best, Depreston e Nameless, Faceless. Mas é melhor não esperar faixas inéditas nem de Lotta Sea Lice, disco em parceria com outro expoente do indie, o igualmente descabelado Kurt Vile.
– Tenho composto bastante, mas não acho que as coisas novas sejam boas o suficiente para tocar – diz a ansiosa Courtney.
POPLOAD GIG! – COURTNEY BARNETT
- Sexta-feira (22 de fevereiro), às 21h.
- Opinião (Rua José do Patrocínio, 834).
- Ingressos à venda por R$ 160 nas lojas Multisom (Rua dos Andradas 1001 e Bourbon Wallig) e no site ticketload.com, sujeitos a taxas, com 50% de desconto para sócios do Clube do Assinante.