Em A Música da Mãe, single lançado em agosto, Djonga pergunta: "Quem imaginava que o filho do nada ia virar isso aqui?". Nascido na Favela do Índio, em Belo Horizonte (MG), e criado no bairro São Lucas, Zona Leste da capital mineira, o rapper de 24 anos hoje desponta como um dos principais nomes da nova geração brasileira do hip hop. No embalo de seu segundo disco, ele volta a se apresentar em Porto Alegre nesta sexta-feira (7), no Be.Club (Castro Alves, 825).
Djonga é o nome artístico de Gustavo Pereira. O cantor ganhou esse apelido na época em que participava de saraus de poesia em Belo Horizonte, ainda na adolescência. Ele cresceu em uma família que ouvia todo tipo de música e em uma região na qual o funk carioca predominava. De qualquer maneira, o rap sempre esteve presente, tanto que o clássico Sobrevivendo no Inferno (1997), dos Racionais MC's, foi um dos primeiros discos de sua vida. Mas foi um cantor oriundo do rock que instigou sua criatividade.
– Conheci a galera do rock e me identifiquei, principalmente com Cazuza. Comecei a ouvi-lo bastante. Passei a escrever música independente do que fosse. Na época, ia muito aos duelos de MCs. Consequentemente, todas as minhas letras saíam em ritmo de rap. Como estava ficando legal, em um ritmo que eu gostava, pensei em investir mais nisso. Cada vez mais participei do movimento – relata.
Em seguida, ele formou o coletivo de rap DV Tribo e foi pavimentando seu espaço na cena, sendo convidado para fazer participações com outros rappers – como Baco Exu do Blues, em Sujismundo. Em 2017, lançou seu primeiro disco, Heresia. O álbum fez parte de diversas listas de melhores do ano e integrou o ranking dos discos do ano da Associação Paulista de Críticos de Arte (APCA). Para Djonga, foi seu grito de autoafirmação:
– É um álbum emergente. Precisava gravá-lo para poder participar da cena de uma forma mais potente. É um disco que escrevi e produzi rápido. Estava fazendo várias participações e precisava apresentar meu trabalho solo de maneira consistente para poder justificar por que as pessoas gostavam tanto do Djonga e achavam que ele fazia tanto sentido para a cena.
O menino que queria ser deus
Sua consolidação veio este ano com o segundo álbum, O Menino Que Queria Ser Deus. Aclamado pela crítica e dissecando questões raciais, o trabalho traz um rapper mais maduro artisticamente.
– Tentei abusar mais da música no sentido da canção, explorando o que sei fazer enquanto cantor. A diferença está na produção, feita com mais tempo e cuidado. Não era tão urgente estar ou não na cena, simplesmente queria apresentar um trabalho bom – destaca. – Há apontamentos que eu sempre trouxe, como as questões de raça no país e que afetam as populações denominadas minorias, que, na verdade, são a maioria – completa.
Os dois clipes de O Menino Que Queria Ser Deus levam a assinatura de Djonga no roteiro. Corra faz referência ao filme americano de terror racial de Jordan Peele.
– Uma coisa que tentei explorar neste disco é o medo. Independentemente de onde estamos, temos medo. O negro tem medo de estar na periferia em situação difícil, mas, às vezes, tem medo também de estar no meio dos brancos, das pessoas mais ricas, que representam a cultura branca e eurocêntrica. Vivemos no não lugar – explica.
Já o badalado Junho de 94, um dos clipes de rap brasileiro mais comentados do ano, traz o contraste do café da manhã de duas famílias: a rica (branca) e a pobre (negra). Participando das duas mesas, Djonga aparece com a corda no pescoço nas duas refeições.
– O cara está sentado com a família pobre, mas não quer estar ali. Ninguém quer ser pobre, todo mundo quer ter uma condição melhor, com dignidade. Quando está na mesa da família rica, identifica que são outros costumes, que há uma estrutura de preconceitos. Ele pode pensar: "Pô, estou aqui, mas será que mudou alguma coisa?". É para deixar essa reflexão: o que a gente quer? Como a gente quer? Como resolver esse problema? É para explorar a questão do desconforto do negro.
DJONGA
- Sexta-feira (7), às 23h, no Be.Club (Castro Alves, 825)
- Ingressos a R$ 60 (pista, 2º lote), R$ 80 (vip, 2º lote) e R$ 100 (backstage, 1º lote)
- Pontos de venda: Lojas Verse do Centro (Andradas , 1.444, loja 06 da Galeria Chaves) e Shopping Lindoia, além do site sympla.com.br.
- Classificação etária: 18 anos