O maestro italiano Romolo Gessi e o violoncelista búlgaro Stanimir Todorov são os convidados da Orquestra Sinfônica de Porto Alegre (Ospa) para um encontro de épocas nesta terça (4/7), a partir das 20h30min, no Theatro São Pedro, em Porto Alegre. O programa da noite contará com o Concerto para Violoncelo em Dó Maior, de Haydn (1732 – 1809), um exemplar bem acabado do classicismo; a Sinfonia nº 3, de Mendelssohn (1809 – 1847), que presentifica as emoções e sensações do período romântico, e a estreia de Ritual Ifá, do compositor baiano Vinicius Amaro, 29 anos, honrando a contemporaneidade em sua fusão de referências.
Vencedor do Concurso Jovens Compositores 2016 da Ospa, Amaro teve a adolescência marcada pelo rock progressivo. Ao ingressar no curso de graduação em composição da Universidade Federal da Bahia, foi impactado pela música de Villa-Lobos, Bartók e Stravinsky. Mas nada moldou tanto sua identidade artística quanto o movimento de compositores formados em torno da universidade baiana, como Ernst Widmer, Lindembergue Cardoso e Paulo Costa Lima. A partitura que será estreada hoje recria as vivências em um ritual de Ifá, sistema de adivinhação de origem ioruba, como explica Amaro:
– Ritual Ifá é uma obra que propõe um diálogo horizontal entre a música de concerto contemporânea, principalmente sob o aspecto harmônico e gestual, e a música de candomblé, com sua riqueza rítmica e textural. Como todo diálogo, este guarda potencialidades para acordos e conflitos, que acabam dirigindo a trama compositiva.
Depois, a orquestra recebe o solista Stanimir Todorov para executar o Concerto para Violoncelo em Dó Maior, de Haydn, que tem uma história curiosa. Até 1961, conhecia-se apenas um concerto para violoncelo do compositor austríaco, em ré maior. Naquele ano, um arquivista descobriu, em Praga, a partitura do concerto em dó maior, composto entre 1761 e 1765, que passou a ser executado pelos maiores violoncelistas do mundo. Foi um presente e tanto para o repertório do instrumento relativo ao período clássico, afinal, nem Mozart, nem Beethoven deixaram concertos para violoncelo – embora se conheça um fragmento de Mozart e o Concerto Triplo para Violino, Violoncelo e Piano, de Beethoven. Todorov, o violoncelista búlgaro, elogia:
– Se olharmos de perto esta obra maravilhosa, fica absolutamente claro que o Concerto para Violoncelo em Dó Maior se aproxima em escrita e estilo dos concertos para violino de Haydn.
A alegria, a poesia e o virtuosismo do terceiro movimento dão uma ideia de como o compositor conhecia o instrumento e o desenvolveu à perfeição.
A Sinfonia nº 3, que encerrará o programa, foi a última das cinco sinfonias conhecidas de Mendelssohn a ser concluída, em 1842, treze anos depois dos primeiros esboços. Conhecida como Escocesa, tem inspiração em uma viagem do compositor ao país europeu em 1829, mas a presença da música escocesa não é clara para muitos: em uma resenha de 1843, Robert Schumann chegou a confundir a Sinfonia Escocesa com a Italiana, a quarta. Para o regente Romolo Gessi, a obra pode ser considerada um testamento espiritual e um trabalho de maturidade:
– Sou fascinado pela atmosfera da Terceira Sinfonia. Concordo que a influência escocesa não é explícita, mas, se você procurar, encontrará muitas referências na profundeza da música.
O maestro acrescenta que as obras do programa exibem as diferenças entre as épocas de Haydn e Mendelssohn:
– A confluência entre eles poderia ser encontrada em uma espécie de visão positiva da mensagem sugerida pelas ideias musicais. Para ambos, depois da escuridão podemos sempre encontrar uma luz de esperança e serenidade, o que não é tão comum em outros compositores.
ORQUESTRA SINFÔNICA DE PORTO ALEGRE (OSPA)
Nesta terça-feira (4/7), às 20h30.
Theatro São Pedro (Praça Marechal Deodoro, s/nº), fone (51) 3227-5100, em Porto Alegre.
Ingressos: R$ 20 (galeria), R$ 30 (camarote lateral), R$ 40 (camarote central) e R$ 50 (plateia), à venda na bilheteria do local, das 13h até o horário de início do espetáculo.
Desconto de 50% para idosos, estudantes e sócios do Clube do Assinante.