O público aproveitou a tarde ensolarada e a temperatura de 34°C deste sábado (16) para prestigiar o último fim de semana da Feira do Livro de Porto Alegre.
Em torno das 14h, a movimentação era constante nas bancas na Praça da Alfândega, mas os corredores não chegavam a registrar aglomerações.
Bonés, chapéus e garrafas com água eram vistas entre os visitantes, que procuravam se proteger do sol em áreas com mais sombra.
Os estudantes universitários Henrique Conrado, 19 anos, de Sapucaia do Sul, e Christian de Ávila, 22, de Canoas, olhavam obras nas caixas de saldos.
— Estou procurando bastante livros clássicos e da literatura brasileira contemporânea — diz Ávila, que visitava a feira pela primeira vez em 2024.
O amigo também fazia sua estreia sob os jacarandás da Praça da Alfândega e enaltece o aspecto democrático proporcionado pela literatura.
— Estávamos conversando sobre a democratização da leitura, que é um pouco complicado, principalmente nas regiões periféricas. É algo que distancia um pouco o povo do ato que muita gente define como político, que é a leitura. Estou achando bem legal que o preço é acessível para as pessoas da Região Metropolitana — observa Conrado.
O jornalista Ricardo Bueno, 61, adquiria um exemplar em uma das bancas. Em função da enchente de maio, o piso de pedras portuguesas apresenta problemas em alguns pontos da Praça da Alfândega, o que dificulta sua movimentação, por ser cadeirante.
— As pedras portuguesas, eu acho lindíssimas. Quem tem ideia de patrimônio histórico concorda, mas para cadeirante é bem complicado — relata.
Bueno acredita que a situação seria melhor se tivesse à disposição uma cadeira motorizada.
— O acesso à Feira foi relativamente tranquilo. Deixei o carro em uma vaga para deficiente ao lado do Margs (Museu de Arte do Rio Grande do Sul). Fui ver a Orquestra Villa-Lobos e um rapaz, muito gentil, me conduziu por um acesso com uma rampinha. Depois fui ver o Coral da Universidade Federal de Ciências da Saúde de Porto Alegre (UFCSPA), mas é complicado circular por aqui — refere, em relação ao piso irregular.
Bueno menciona duas atrações da tarde deste sábado: o espetáculo Paz & Amor, com inspiração no movimento hippie, apresentado pela Orquestra Villa-Lobos no Teatro Carlos Urbim, e a apresentação do coral da UFCSPA.
Uma das atrações do fim da tarde será a conversa entre os escritores Jeferson Tenório, Marcelino Freire e José Falero. O Diálogos Literários, com mediação de Nanni Rios, acontecerá no Teatro Petrobras Carlos Urbim. Às 19h, Tenório autografa De Onde Eles Vêm na Praça de Autógrafos Gerdau.
Aumento de 20% nas vendas
Com a aproximação do fim da 70ª edição do evento, os livreiros começam a fazer o balanço das vendas.
O presidente da Câmara Rio-grandense do Livro (CRL), Maximiliano Ledur, estima um aumento de 20% na comercialização de livros na comparação com o ano passado.
— A expectativa é de crescimento. Conversando com os livreiros, as vendas estão 20% acima do ano passado. E acho que isso vai se manter e até aumentar um pouquinho, porque o fim de semana começou com o feriado muito bom ontem (sexta-feira, 15) e batendo recorde de vendas — afirma.
Na percepção do livreiro Guilherme Dullius, 45 anos, da Beco dos Livros, o melhor dia de vendas ocorreu, de fato, nesta sexta. E o público visitante durante o feriado tem vindo da Região Metropolitana.
Questionado se a enchente pode estar contribuindo para o aumento nas vendas, o profissional cita o caso de clientes da própria banca.
— Tem um cliente nosso que comenta que perdeu uma biblioteca de 1,8 mil livros. E sabemos que era muito boa. Ele está refazendo ela. E tem aquela coisa que aconteceu durante a pandemia. O pessoal quer sair de casa, aproveitar e não tinha vindo ainda ao Centro desde 3 de maio (data do começo da enchente na Capital) — detalha, em relação à melhora nas vendas.
O livreiro ainda acrescenta:
— O movimento está melhor do que no ano passado e a Feira terá mais dias pelo encaixe das datas. A gente percebe clientes nossos e antigos repondo (os acervos perdidos).
Para o livreiro Fernando Grubel, 58, da Livraria Atalho Literário, a comercialização aumentou durante o feriado. Na banca, o que mais saem são histórias em quadrinhos, obras de psicologia e romances. Na avaliação dele, a cheia de maio impacta no interesse do público pelos livros.
— Devido à enchente muita gente perdeu o acervo. De um certo modo, isso (inundação) está ajudando (na venda de livros) — menciona, dizendo que o crescimento estimado será de 10% a 15% na comparação com o ano anterior.
Na Letras & Cia, a livreira Adenusa Binelo, 41, comenta que o feriado tem atraído visitantes do interior até a Feira do Livro. As vendas na barraca estão 20% acima do que foi registrado no ano passado e ainda faltam quatro dias para o término da atual edição.
— Para nós, as vendas ontem (sexta, 15) foram melhores do que no feriado do ano passado. Devido aos autores que estarão aqui no final da tarde, o José Falero e o Jeferson Tenório, acreditamos que estará melhor — prevê.
A coordenadora da banca da L&PM, Daice Fuhr, 61, comemora as vendas do feriado de sexta e revela uma situação percebida no dia a dia.
— Tem pessoas que compram para doar para escolas e bibliotecas. Acho bem legal isso, todo mundo está se ajudando e fazendo a leitura acontecer. Tem muitas cidades que perderam seus livros — menciona.
A livreira acredita que o balanço será positivo ao final da Feira do Livro.
— Acho que vamos crescer em torno de 10% a 15%.
O proprietário da Calle Corrientes, Miguel Gómez, 72, compartilha suas impressões em relação ao feriado de Proclamação da República.
— Ontem (sexta, 15), começou o feriadão e as vendas foram excelentes. Posso prever que hoje (sábado, 16) continue nesse mesmo ritmo. Só se o calor atrapalhar, porque para amanhã (domingo, 16) está previsto mais calor — pondera o livreiro.
Na Calle Corrientes, que oferece obras em língua espanhola, o livro Palavras para depois: conversas com Pepe Mujica, do jornalista argentino Fabián Restivo, tem sido o mais procurado pelos leitores. Porém, Gómez não acha que as vendas de um modo geral em sua banca serão superiores ao ano passado.
— Será parelho, mas um pouco aquém — estima. — Falei com colegas, que dizem que a experiência tem sido melhor do que em 2023 — conclui.