Na mesma época em que os jacarandás desabrocham, milhares de leitores ávidos se dirigem, anualmente, até a Praça da Alfandega, no Centro Histórico, com o objetivo de garantir exemplares, usufruir de saldos e aproveitar a Feira do Livro de Porto Alegre. Neste sábado (2), no primeiro final de semana do evento deste ano, nem mesmo o sol e o calor afugentaram os visitantes.
A programação, que inclui contação de histórias, sessões de autógrafos e concursos literários, atraiu o professor de história Bruno Felix Segatto, 33 anos, para os corredores das bancas nesta tarde em busca de obras da escritora italiana Elena Ferrante. Frequentador há pelo menos uma década, diz que a feira é um elemento importante na cidade para a valorização da cultura e da educação.
— Não só indico que meus alunos venham como costumo trazer eles. Acredito que é um incentivo para que entrem em contato com a atmosfera cultural. Os que não têm o hábito de leitura acabam sendo incentivados a desenvolverem — analisa o professor, que voltará para a feira junto de 20 alunos do Ensino Médio no próximo dia 6.
Um dos destaques deste segundo dia de evento foi o lançamento do livro Almanaque da Feira do Livro 2024, do escritor e jornalista gaúcho Rafael Guimaraens. A obra faz um apanhado das histórias de todas as edições do evento. Ainda neste sábado, teve início o trabalho de curadoria de literatura e cultura negra, realizado pela escritora e musicista Lilian Rocha. A atividade, que segue até o último dia da feira, busca promover a cultura afro-brasileira e dar visibilidade a autores negros nesta a 70ª edição.
Mesmo após 70 anos de tradição na praça, os clássicos continuam chamando a atenção do público. Sentada em um banco, a empresária Laura Luiza Zini, 31 anos, lia um exemplar de Memórias Póstumas de Brás Cubas, de Machado de Assis, recém-adquirido. Ela decidiu buscar pelo exemplar após sua mãe, que mora em Canela, na Serra, avisar do começo da programação e comentar o desejo de ler uma edição do livro.
— Vim dar uma volta na feira, passar em sebos, que tem melhores preços, para ver se achava o livro para ela. Acho a Feira do Livro um evento enriquecedor para Porto Alegre. A cultura sempre move as pessoas para um lugar positivo. Eu pretendo vir nos próximos dia, dar mais uma volta para ver aquilo que não consegui. São muitos expositores — comentou.
Feriado movimenta bancas
E os leitores aproveitavam para explorar as 72 bancas de livros, nesta tarde. Enquanto atendia clientes, que tinham preferência pelos livros pockets — versão de bolso —, a livreira Daice Fuhr, 61 anos, da L&PM, explicava que a editora está presente na Feira do Livro de Porto Alegre há cerca de 50 anos.
— Tivemos muitos problemas neste ano com as enchentes, o que deixou o pessoal um pouco desanimado. Mas o que podemos ver hoje, é que o pessoal está sedento por sair, por ir ver a feira, para comprar, ver saldos, ver promoções. Então, acredito que vamos ter uma bela feira pela frente — afirma a livreira, que já participou de 42 Feiras do Livro.
Em outra ponta da feira, que ocupa cerca de um hectare dentro da Praça da Alfandega, o livreiro Mário Telmo Guerreiro, 53 anos, da editora Sulina, avalia a feira como um suspiro para o setor editorial após eventos como a pandemia e enchente de maio. Ele, que já atuou em quatro edições e visitou outras tantas, espera que os próximos dias sejam movimentados como foi esse feriado de Finados.
— Esse primeiro sábado está ótimo. Igual aos melhores momentos de outras feiras. Depois de todo aquele trauma da enchente, as pessoas iam querer se reencontrar. A feira é um evento que traz esse espírito de comunidade. Além disso, é um evento cultural dos mais importantes. Eu sei que deu uma encolhida nos últimos anos, mas a importância dela, ao meu ver, permanece — diz.
Só nesta tarde, a editora Arquipélago havia vendido ao menos cem livros na feira. O movimento, segundo o livreiro Alec Lisboa, 30 anos, é superior ao segundo dia da última edição do evento.
— Está um pouco no início para saber o cenário todo deste ano, mas até agora está sendo positivo o movimento. A nossa vontade é de que os próximos dias se mantenham assim: com bastante vendas — acrescentou.
A organização do evento informou que os balanços gerais de venda e público são divulgados somente ao final da feira.
Serviço
Criada em 1955, a feira literária que teve início na sexta-feira (1º), segue até o dia 20 de novembro. Ao longo dos 20 dias de evento, 314 escritores gaúchos, 74 nacionais e 13 internacionais passarão pela Praça da Alfândega. Os visitantes podem aproveitar o evento entre as 10h e as 20h, todos os dias.