Ele já havia escrito sobre a enchente de 1941, o Teatro de Arena, a tragédia da Rua da Praia, os crimes da Rua do Arvoredo e outros causos e causas curiosas de Porto Alegre. Mas nunca sobre a maior feira literária a céu aberto da América Latina. A lacuna foi preenchida neste ano.
Conhecido como um pequeno historiador urbano, o jornalista Rafael Guimaraens assina o Almanaque da Feira do Livro - 70 anos, encomendado pela Câmara Rio-Grandense do Livro (CRL) e com lançamento previsto para sábado (2), às 18h, na Praça de Autógrafos da Praça da Alfândega.
Dados e acontecimentos de cada uma das 69 edições da Feira são costurados com fatos culturais e sociais que marcaram esses 69 anos. Por exemplo: na primeira edição da Feira, em 1955, Juscelino Kubitschek elegia-se presidente do Brasil, enquanto Frank Sinatra estava em cartaz nos cinemas de Porto Alegre com o suspense Meu Ofício é Matar e o mundo era abalado pelas mortes de Albert Einstein, Carmen Miranda e James Dean.
A fonte para as pesquisas foram arquivos da própria Câmara, que organiza o evento desde 1963, e jornais de época. Guimaraens também escreveu um pequeno perfil sobre cada um dos patronos.
— Para cada ano de Feira, trago cinco ou seis pequenos acontecimentos culturais e sociais daquele ano. Cuidei para que o almanaque contasse a história da Feira, mas também um pouco do mundo. As turbulências políticas, as conquistas esportivas, os grandes livros, enfim, tudo está aí — diz.
Guimaraens começou a pesquisar sobre a Feira no início do ano, realizando consultas no depósito da Câmara Rio-grandense do Livro, no Centro Histórico. Por sorte, conseguiu finalizar esse trabalho pouco antes da enchente de maio, que alagou ruas da região central de Porto Alegre e dificultou a locomoção — ele e a esposa, Clô Barcellos, ambos editores da Libretos, ficaram fora de sua casa, no bairro Menino Deus, até que a água baixasse.
— Foi um desafio grande, porque a gente, a Clô e eu, tínhamos um ideia, apostamos nela, e no processo de feitura as coisas sempre saem um pouco diferente. A própria pesquisa tornou tudo mais complexo. Mas fiquei orgulhoso e satisfeito de ter conseguido fazer um trabalho o mais completo possível e pensar que as pessoas vão gostar dele. O almanaque está muito bonito — garante o autor.
São 284 páginas ilustradas com desenhos dos cartunistas Edgar Vasques, Pablito Aguiar, Santiago e o já falecido Sampaulo, além de uma série de fotografias. Segundo Guimaraens, foram utilizadas imagens coloridas somente a partir de 2002.
— Foi uma escolha editorial, já que havia maior disponibilidade de fotos coloridas a partir dos anos 2000. E essa transição do P&B para as fotos coloridas marcam o sentido de evolução presente no Almanaque — comenta.