Correção: Antonio Cicero foi submetido a um procedimento de suicídio assistido, e não de eutanásia como publicado entre 13h45min e 17h57min. O texto já foi corrigido.
O poeta e filósofo Antonio Cicero é autor de Guardar (leia na íntegra abaixo), um dos seus poemas mais famosos. Diagnosticado com Alzheimer, o escritor faleceu nesta quarta-feira (23), aos 79 anos, após um procedimento de suicídio assistido realizado na Suíça. Ele deixou uma carta de despedida aos amigos explicando a decisão.
Integrante da Academia Brasileira de Letras (ABL) desde 2017, Cicero sempre escreveu poesia, mas os seus textos se tornaram populares quando a sua irmã, a cantora e compositora Marina Lima, passou a musicá-los. Com isso, começou a escrever tanto poemas quanto letras para as melodias da artista, como Fullgás, Pra Começar e À Francesa. Entre os cantores com quem colaborou estão Adriana Calcanhoto, Lulu Santos, Zizi Possi, João Bosco, Orlando Morais e Maria Bethânia.
Após a confirmação do seu falecimento, os internautas começaram a relembrar o poema Guardar, que faz parte do livro de mesmo nome lançado em 1996, nas redes sociais. A obra foi vencedora do Prêmio Nestlé de Literatura Brasileira no mesmo ano e, em 2001, o poema entrou na antologia Os Cem Melhores Poemas Brasileiros do Século, organizado por Ítalo Moriconi.
Há um mês, a atriz Fernanda Montenegro fez uma leitura do texto e divulgou nas suas redes sociais (assista abaixo).
Leia o poema Guardar:
Guardar uma coisa não é escondê-la ou trancá-la.
Em cofre não se guarda coisa alguma.
Em cofre perde-se a coisa à vista.
Guardar uma coisa é olhá-la, fitá-la, mirá-la por admirá-la, isto é, iluminá-la ou ser por ela iluminado.
Guardar uma coisa é vigiá-la, isto é, fazer vigília por ela, isto é, velar por ela, isto é, estar acordado por ela, isto é, estar por ela ou ser por ela.
Por isso melhor se guarda o voo de um pássaro
Do que pássaros sem voos.
Por isso se escreve, por isso se diz, por isso se publica, por isso se declara e declama um poema:
Para guardá-lo:
Para que ele, por sua vez, guarde o que guarda:
Guarde o que quer que guarda um poema:
Por isso o lance do poema:
Por guardar-se o que se quer guardar.