As filas gigantescas para entrar nos pavilhões do Distrito Anhembi e os ingressos esgotados para o primeiro final de semana provam que a Bienal Internacional do Livro de São Paulo é um dos grandes eventos da América Latina para quem gosta de literatura. E de todo tipo. A programação contempla do fenômeno pop ao escritor mais cult e premiado. Aqui, quem escreve e vende livros é tratado como estrela.
Criada pela Câmara Brasileira do Livro (CBL) em 1970 e sediada inicialmente no Parque do Ibirapuera, a Bienal do Livro de São Paulo ocorre a cada dois anos e se reveza com a Bienal do Livro do Rio, criada em 1983 pelo Sindicato Nacional dos Editores de Livros (Snel). Qualquer editora que queira se projetar no mercado brasileiro costuma marcar presença em ao menos uma dessas feiras literárias.
Diferentemente da Feira do Livro de Porto Alegre, que ocorre a céu aberto e é gratuita, a Bienal de São Paulo tem cobrança de ingresso. A entrada inteira custa R$ 35, mas a possibilidade de cashback — implementado pela segunda vez desde 2022 — permite que R$ 15 sejam revertidos na compra de exemplares. Nesta 27ª edição, a feira espera receber aproximadamente 660 mil pessoas de todos os cantos do país ao longo de 10 dias de programação, que vai até domingo (15).
O primeiro final de semana já deu uma amostra do sucesso. Em alguns momentos, era preciso se acotovelar para conseguir caminhar entre os corredores dos pavilhões. Caindo no feriado de 7 de Setembro, o sábado teve ingressos esgotados uma semana antes. Com menor velocidade, as entradas também se esgotaram para o domingo.
— A Bienal ainda não é show de rock, em que os ingressos acabam logo no primeiro dia de vendas, mas eu acho muito legal que tivemos ingressos esgotados para esses primeiros dias. Isso não acontecia. Nosso primeiro sold out foi na edição de 2022 — diz Fernanda Garcia, diretora-executiva da Câmara Brasileira do Livro (CBL).
Por ser em um ambiente fechado, as editoras montam espaços atrativos, imitando cenários de histórias que foram sucesso de vendas. A Record construiu um estande em que as paredes do lado de fora são decoradas com painéis de livros como Em Agosto nos Vemos, de Gabriel García Márquez, e O Vento Sabe Meu Nome, de Isabel Allende. Em um canto, há uma reprodução da ilustração da capa de Meus Dias na Livraria Morisaki, de Satoshi Yagisawa, um dos títulos do atual fenômeno literário chamado healing fiction, ou literatura de cura. Havia fila para fazer fotos ali.
— Nosso estande atrai muito, é um convite para as pessoas tirarem fotos. É uma forma de envolver mais o leitor. A Bienal é uma experiência para o leitor, não é só vir para comprar o livro. É um grande ponto de encontro dos fãs de literatura — diz Renata Petengill, editora-executiva da Record e do selo Bertrand Brasil.
Sócio da Todavia, editora que em apenas sete anos no mercado já lançou nomes importantes da literatura contemporânea, como Itamar Vieira Junior e Natalia Timerman, André Conti diz que houve uma mudança brusca no perfil do público da Bienal. Para ele, o divisor foi o ano de 2016, em que o evento trouxe a influenciadora Kéfera Buchmann.
— Virou um evento em que os jovens vêm para encontrar seus ídolos, como a Kéfera e o Felipe Neto. Esse perfil pop tomou a Bienal de assalto. Para editoras que têm esse perfil de lançar influenciadores digitais, o faturamento na Bienal é muito alto. Mas também é o evento em que a Conceição Evaristo é um beatle, em que o Itamar Vieira Junior é o Paul McCartney. Essas pessoas são tratadas como superestrelas aqui dentro — avalia Conti.
Vouchers para compra de livros
Outra diferença da Bienal do Livro de São Paulo em relação à Feira do Livro de Porto Alegre é o orçamento: enquanto o evento paulista custa R$ 36 milhões, boa parte oriunda de leis de incentivo, o do Rio Grande do Sul é realizado com cerca de R$ 3 milhões. Um ponto elogiado por participantes do evento de São Paulo é que a prefeitura dá vouchers de R$ 60 para alunos da rede municipal de ensino gastarem com livros vendidos dentro dos pavilhões.
É o evento em que a Conceição Evaristo é um beatle, em que o Itamar Vieira Junior é o Paul McCartney. Essas pessoas são tratadas como superestrelas aqui dentro
ANDRÉ CONTI
Sócio da editora Todavia
— Neste ano, 33 mil alunos da escolas públicas da rede municipal de São Paulo receberam vouchers. A escolha do livro faz a diferença para formar um leitor. As crianças são acostumadas que alguém coloque um livro na mão delas. Mas visitar uma Bienal com mais de 3,5 milhões de livros disponíveis e fazer a sua escolha faz toda a diferença. Outros 96 mil professores da rede municipal também recebem vouchers no mesmo valor — conta a diretora-executiva da Câmara Brasileira do Livro.
Presente no evento em São Paulo, Maximiliano Ledur, presidente da Câmara Rio-Grandense do Livro (CRL), entidade que realiza a Feira do Livro de Porto Alegre, surpreende-se:
— É inacreditável os jovens estarem aqui com malas para carregar os livros que compraram. Eles compram livros para ler até o fim do ano.
Para os expositores, não é barato estar na Bienal. Um estande pequeno, sem decoração, custou em torno de R$ 20 mil para a Kitembo, editora paulista que lança livros afrofuturistas e ainda é novata no mercado. Apesar disso, o sócio Anderson Lima acredita que vale a pena.
— Já pudemos notar que a venda deste ano será expressiva. Vai compensar o valor que pagamos para estar aqui — diz.