Autor do livro que bateu recorde de pré-vendas na história da Companhia das Letras, Felipe Neto lotou o auditório da Bienal Internacional do Livro de São Paulo na tarde deste sábado (7).
Falou sobre literatura, política, a perseguição que diz ter sofrido a partir de 2018, quando começou a criticar Jair Bolsonaro, e colocou na fogueira influenciadores que na época não teriam se posicionado contra o ódio perpetuado pela extrema-direita, como Whindersson Nunes.
Lançando Como Enfrentar o Ódio, o influenciador digital e empresário de 36 anos disse que decidiu escrever sobre o período a partir da eleição de Bolsonaro porque sofreu perseguição "semelhante a tortura psicológica".
Em 2021, ele foi alvo de inquérito da Polícia Civil por ter chamado Bolsonaro de "genocida". Antes disso, ele era um crítico contundente dos governos petistas.
— As coisas que precisei encarar depois de 2018 foram coisas desumanas, que se assemelham muito a tortura psicológica. A iminência de ser preso, a perseguição política e financeira... Senti que precisava contar essa história.
Ele diz que Como Enfrentar o Ódio aponta nomes de personalidades que poderiam ter assumido uma postura contra a perseguição a artistas que criticavam o governo da época, mas teriam preferido manterem-se caladas para não perderem fãs.
— O livro vai me trazer inimizades. Eu realmente fiz questão de dar nomes. Essas pessoas sentaram em seus tronos para não perderem acúmulo. E o fato de essas pessoas terem ficado em silêncio me colocou como principal alvo do bolsonarismo. O Whindersson Nunes era muito maior do que eu e não falou nada. Não quero que vocês odeiem ele. Mas várias pessoas se silenciaram quando o Brasil mais precisava, e nunca vou esquecer disso.
Também discorreu sobre a interferência em um episódio da Bienal do Livro do Rio de 2019, quando o prefeito da época, Marcelo Crivella, determinou a retirada de um livro cuja capa havia dois homens se beijando. Neto comprou milhares de exemplares de diversas obras com temática LGBT+ e as entregou gratuitamente para os visitantes, do lado de fora do evento.
— Aquele era um momento crucial. Eu pensei: "Ou alguém impede o Crivella, ou outros prefeitos vão se inspirar". Se eu não usasse da minha posição de privilégio para defender minorias, eu estaria cometendo um erro. Todo homem branco, hétero, cisgênero tem obrigação de ajudar a combater desigualdades.
Mostrando um discurso em tudo diferente do Felipe Neto de anos atrás, ele falou o tempo inteiro sobre a defesa da arte, da cultura e da tolerância e aceitação de minorias sociais.
— Temos que resistir e enfrentar toda a tentativa de silenciamento da arte e da cultura na Brasil.
Contando ter entrado para a faculdade aos 36 anos, Neto incentivou a plateia, a maioria jovens, a ler e estudar. Também pediu que não encarem a política como algo enfadonho.
— Precisamos de duas coisas para mudar o Brasil. Aumentar a quantidade de leitores e perder a ideia de que tudo relacionado a política é chato. Vamos falar de política sem revirar os olhos? Espero que meu livro ajude a fomentar a leitura e a criar o entendimento de que política não é chato.