Eleito patrono da 70ª Feira do Livro de Porto Alegre, o escritor Sergio Faraco conversou com Zero Hora sobre a homenagem e o seu próximo livro. A escolha foi divulgada na manhã desta quinta-feira (15) pela Câmara Rio-Grandense do Livro (CRL), no Master Grande Hotel, no centro da Capital.
A Feira do Livro deste ano será realizada na Praça da Alfândega de 1º a 20 de novembro. Mais detalhes da programação serão divulgados nas próximas semanas.
Natural Alegrete, na Fronteira Oeste, o escritor de 84 anos viveu na União Soviética entre 1963 e 65, onde cursou ciências sociais em Moscou.
Os primeiros contos de Faraco — gênero narrativo pelo qual se destacou ao longo dos anos — foram publicados nos anos 1960, no jornal Correio do Povo. Ele também produziu obras de memórias, crônicas e não ficção.
A seguira, confira a entrevista:
Como foi que você recebeu a notícia de que seria o patrono da Feira do Livro?
Eu estava em Gramado, quando o presidente da Câmara me telefonou. Recebi a ligação com muita surpresa, eu não cogitava mais essa ideia de ser patrono. Depois de eu recusar tantas vezes, achava que a Câmara não estava mais interessada na minha pessoa. Consultei minha mulher e acabei aceitando com muita honra. Acho que aceitei num momento muito relevante da história da Câmara, é a edição 70 da Feira e justamente depois de uma tragédia. Naquilo que depender de mim, vou tentar ajudar naquilo que eu puder para que seja um êxito, apesar de não ser do meu temperamento viver publicamente.
Este ano, um dos principais motes da Feira do Livro será de ajuda e colaboração aos editores livreiros atingidos pela enchente. Há um sentimento de reconstrução do setor. Como é ser patrono de uma Feira com esse simbolismo?
Isso aumenta minha responsabilidade. Num momento de tantas perdas e prejuízos das editoras. A minha editora (L&PM) teve milhares de livros perdidos. É um momento crucial da história da Feira. Me sinto como parte dessa reação, dessa reconstrução. Digamos, uma parte menos importante, pois não sou livreiro ou editor, mas quero ajudar como puder.
Você planeja lançar uma memória que o leitor poderá considerar uma continuação de Lágrimas na Chuva. Pode falar mais sobre esse projeto?
Eu era muito cobrado depois que lancei Lágrimas na Chuva, em que contei o que havia acontecido comigo na União Soviética. Minhas atribulações, digamos assim. E as pessoas me cobravam: você contou o que te aconteceu na Rússia, mas não o que aconteceu aqui quando voltaste (Faraco foi preso pelo regime militar). E cobravam com razão. Eu fazia críticas ao regime soviético, como se aqui estivesse tudo bem, mas não estava. Só que eu tinha muita dificuldade de escrever essa parte, até porque pensei que o assunto terminou quando encerrei o outro livro. Tive que recomeçar todo um projeto, que certamente não teria a mesma qualidade do anterior. Consegui escrever, contei tudo que me aconteceu, minhas dificuldades. Submeti ao meu editor, e ele concluiu que era possível. Será lançado um pouco antes da Feira e vai se chamar Digno É o Cordeiro.
Você anunciou há uns anos que pararia de escrever contos. Segue sem escrevê-los?
Ultimamente, tenho escrito só crônicas e crônicas históricas, que gosto muito. Não sou leitor de conto, sou mais leitor de romance. Mas sou mais leitor ainda de história antiga. Escrevi muitas crônicas envolvendo histórias antigas, tenho até um livro chamado Histórias Dentro da História. Conto mesmo, não escrevo mais. Como traduzi muito, mais de 30 livros, acho que perdi a embocadura do conto. Quando tu traduz, tu és obrigado a assumir o modo de fazer do autor traduzido. Então, tu perde um pouco da tua característica. É como um sujeito que toca piston e deixa de tocar. Quando volta, não tem embocadura (risos). Acho que foi isso que aconteceu comigo. O último conto que escrevi deve ter sido há 20 anos. Nesse período alguns contos inéditos apareceram, mas eram contos que eu já havia escrito.
Puxou da gaveta?
Estavam no fundo da gaveta, e eu os considerava muito ruins. Então, dei uma melhorada (risos).