Diante das enchentes que atingem o Rio Grande do Sul, internautas passaram a relembrar nas redes sociais o poema Reminiscências, do poeta gaúcho Mario Quintana, de 1948. Lançado sete anos após as inundações que assolaram Porto Alegre, em 1941, a obra apresenta um testemunho do autor, semelhante ao que está sendo vivido na atualidade.
Quintana retrata a cheia que ao longo de 83 anos foi considerada o maior desastre natural do Estado, quando o Guaíba atingiu 4m76cm, sendo que a cota de inundação é de três metros.
"A enchente de 1941. Entrava-se de barco pelo corredor da velha casa de cômodos onde eu morava. Tínhamos assim um rio só para nós. Um rio de portas a dentro. Que dias aqueles! E de noite não era preciso sonhar: pois não andava um barco de verdade assombrando os corredores? Foi também a época em que era absolutamente desnecessário fazer poemas", escreveu Quintana no livro Sapato florido (1948).
Na época, sem a proteção do muro da Mauá e outros sistemas de contenção, o Guaíba chegou até a Rua da Praia, atual Rua dos Andradas, no trecho junto à Praça da Alfândega, assim como em bairros às margens do rio.
O recorde de maior nível foi ultrapassado no último domingo (5), quando a água chegou a marca de 5m33cm. Em razão das cheias, a Casa de Cultura Mario Quintana, onde o poeta gaúcho morou entre 1968 a 1980, foi afetada pelo avanço da água. A inundação tomou toda a parte térrea do prédio e os danos ainda estão sendo contabilizados.