O escritor, filósofo e ativista da causa dos povos originários Ailton Krenak foi eleito, na tarde desta quinta-feira (5), para a Academia Brasileira de Letras (ABL). Ele, que é o primeiro indígena a figurar no quadro de acadêmicos, ocupará a cadeira número cinco, que estava vaga desde a morte de José Murilo de Carvalho, em agosto. As informações são do jornal O Globo.
Líder dos crenaques era o favorito para o posto desde o início. Recebeu 23 votos, superando a historiadora Mary Del Priore, que obteve 12 votos, e o outro representante indígena, o escritor Daniel Munduruku, que ganhou três votos.
Krenak, ao contrário de seus concorrentes, optou por não fazer campanha, e passou a maior parte do tempo na Reserva Indígena Krenak, no município de Resplendor, em Minas Gerais.
O sucesso de suas obras mais recentes, como A Vida Não É Útil (2020) e Ideias para Adiar o Fim do Mundo (2019), ambas publicadas pela Companhia das Letras, ajudou a difundir o pensamento ameríndio para o grande público.
Krenak é Doutor Honoris Causa pela Universidade Federal de Juiz de Fora e ocupa a cadeira 24 da Academia Mineira de Letras. Participou da fundação da União Nacional dos Indígenas (UNI) e comoveu o país ao discursar na Assembleia Nacional Constituinte, em 1987, quando pintou o rosto com tinta preta de jenipapo em protesto ao retrocesso dos direitos indígenas. Com a atitude, ajudou a aprovar o marco constitucional para as relações entre o Estado, a sociedade e os índios.
— Aquele momento foi o auge da experiência de mobilização social pela redemocratização do Brasil. Toda a sociedade estava envolvida na nova Constituição, era um momento promissor. Mas, olhando em perspectiva, constato que desde então descemos a ladeira em desabalada corrida. Aos poucos as mobilizações foram diminuindo e a sociedade passou a olhar a questão com menos vigilância, até que afundamos vertiginosamente em um pântano em que a própria noção de cidadania foi dissolvida. Hoje vemos pessoas muito despreparadas ocupando cargos nos poderes da nação — avaliou Krenak em entrevista para GZH em 2020.