O escritor, ator e ativista Daniel Munduruku acusou Ailton Krenak, escritor, filósofo e também ativista da causa dos povos originários, de "puxar o seu tapete" na disputa pela cadeira de número cinco da Academia Brasileira de Letras (ABL). Os dois são os únicos indígenas no pleito pela vaga, que tem 11 candidatos no total.
Em entrevista ao jornal Folha de S.Paulo, Munduruku disse que os dois haviam combinado que ele seria o representante indígena na Academia Brasileira de Letras e que os dois não concorreriam um contra o outro.
Segundo Munduruku, Krenak não cumpriu o acordo e efetuou a inscrição para a vaga na ABL antes dele.
— Fiquei abalado (quando soube da candidatura de Krenak). Tinha um combinado nosso de que se fosse para ter um de nós (indígenas) na ABL, esse alguém seria eu. Ele puxou o meu tapete — afirmou Munduruku.
Ailton Krenak negou a existência de acordo entre os dois. O autor de Ideias para Adiar o Fim do Mundo também considerou "graves" as acusações feitas pelo colega.
— É grave o Daniel fazer um comentário desse. Nunca fiz um trato com ele, sequer tomamos um café — disse.
À Folha, Munduruku afirmou ter ligado para Krenak após a candidatura. Segundo ele, o colega disse que "não tinha o menor interesse em entrar para a Academia, mas que havia sido bastante incentivado a sair candidato, então resolveu aceitar".
Ailton Krenak negou a conversa e disse que não pretende desistir da candidatura:
— Nunca falei com ele sobre Academia Brasileira de Letras. Nunca reivindiquei nada, nunca fiz acordo para nada.
Os dois disputam a cadeira vaga desde a morte do historiador José Murilo de Carvalho, em agosto. Nos bastidores, o nome de Ailton Krenak aparece como o mais cotado para vencer. Quem também teria chance é a historiadora carioca Mary Del Priore, conforme apurado pela Folha.
Daniel Munduruku chegou a se candidatar para a ABL em 2021, concorrendo à cadeira de número 12. Ele conquistou nove votos, mas perdeu para o neurocirurgião Paulo Niemeyer Filho, com 25. O escritor é autor de mais de 60 livros sobre a cultura indígena, pelos quais recebeu diferentes prêmios.
Ele acredita que a vitória de Krenak inviabilizaria sua entrada na ABL.
— Sou da literatura há 30 anos, premiadíssimo, inclusive pela própria ABL. Tenho uma obra vasta, ensino indígenas a escrever. Eu que inventei a literatura indígena, isso não existia, sou pioneiro. Tenho direito adquirido sobre essa vaga e sei que se o Krenak entrar agora, eu não entro nunca mais — avaliou Munduruku.