Correção: José Murilo de Carvalho morreu aos 83 anos e não aos 84, como informado entre 11h e 14h20min deste domingo (13). O texto já foi corrigido.
Morreu na madrugada deste domingo (13) o historiador José Murilo de Carvalho, aos 83 anos. Ele estava internado no Hospital Samaritano, em São Paulo, com covid-19.
O velório será nesta segunda-feira (14), a partir das 9h, na Academia Brasileira de Letras (ABL) e o enterro, às 13h, no Mausoléu da ABL, localizado no Cemitério São João Batista, no Rio de Janeiro.
Carvalho ocupava a cadeira número cinco da Academia Brasileira de Letras. Eleito em 2004, ele foi o primeiro historiador a integrar a instituição. Escreveu 19 livros, entre eles A Formação das Almas, A Cidadania no Brasil e Os Bestializados. O historiador foi fundamental para o entendimento sobre como reflexos da escravidão, do colonialismo, da formação do Império e da República e da relação dos militares com o poder influenciam o Brasil até hoje.
Em entrevista a GZH, em dezembro de 2020, José de Carvalho falou sobre os efeitos pandêmicos no Brasil, alegando que “a pandemia do coronavírus é uma calamidade” e que “nosso problema máximo, que a pandemia agravou, é a desigualdade social".
Considerado um dos maiores historiadores e intelectuais brasileiros, Carvalho era mineiro, bacharel em Sociologia e Política pela Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), mestre em Ciência Política pela Universidade de Stanford, na Califórnia, onde defendeu tese sobre o Império Brasileiro. Foi professor e pesquisador visitante nas universidades de Oxford, Leiden, Stanford, Irvine, Londres, Notre Dame, no Instituto de Estudos Avançados de Princeton, e na Fundação Ortega y Gasset, em Madrid.
O historiador foi também professor emérito da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) e pesquisador emérito do CNPq. Fazia parte ainda da Academia Brasileira de Ciências.
Nascido em Andrelândia (MG), a cerca de 150 quilômetros de Juiz de Fora, era de uma família de 10 irmãos e cresceu em uma fazenda em que não havia luz nem água encanada. Lá, segundo relatava, tiravam leite de vaca e andavam descalços — só usavam sapatos quando iam à cidade.
Foi alfabetizado pelo pai, que era dentista, e depois estudou em no seminário. Ele estava na graduação, em Belo Horizonte, quando o Brasil sofreu o golpe militar de 1964. Quando já dava aulas nas pós, Carvalho enfrentou os efeitos do Ato Institucional nº 5 (1968), em um cenário de cassação e prisão de professores e alunos — ele contava que até uma namorada sua foi detida no início dos anos 1970.
Repercussão
Em redes sociais, a Associação Nacional de História (Anpuh-Brasil) classificou Carvalho como "historiador imortal". O Instituto de Filosofia e Ciências Humanas (IFCH) da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS) ressaltou que a obra do pesquisador é referência para a história brasileira.
O senador Randolfe Rodrigues (Rede-AP) ressaltou, em rede social, que as obras de Carvalho "revolucionaram a historiografia e o pensamento político brasileiro", modificando "profundamente a forma como entendemos o Brasil".