O escritor e cineasta Tabajara Ruas foi eleito patrono da 69ª Feira do Livro de Porto Alegre. A escolha foi divulgada na manhã desta quinta-feira (10) pela Câmara Rio-Grandense do Livro (CRL), no Hotel Master Express, no centro da Capital.
Na última edição, o posto foi ocupado pelo poeta Carlos Nejar. A Feira do Livro deste ano irá tomar a Praça da Alfândega de 27 de outubro a 15 de novembro.
Ao comunicar a escolha do patrono, o presidente da CRL, Maximiliano Ledur, atestou que Tabajara é "o exemplo vivo do poder transformador dos livros".
— Seu trabalho inspira gerações ao longo dos anos e influencia o modo de ser e ver o gaúcho, na formação da nossa identidade — pontuou Ledur.
O anúncio foi um presente de aniversário para o autor: ele completa 81 anos nesta sexta-feira (11). Em seu discurso, o patrono começou agradecendo a sua família e aos presentes. Ele lembrou de quando saiu de Uruguaiana com apenas uma mala para tentar a vida e de ter começado a escrever quando estava no exílio, na Dinamarca, por conta da ditadura militar.
— Receber essa homenagem me soa como um belo e pomposo presente de aniversário — celebrou Tabajara. — Um presente que eu não imaginava mais ser merecedor, afinal, são tantos novos talentos e tanta produção literária. Mas saber que existe os novos e que ainda é possível termos uma Feira do Livro, com a dimensão e o tamanho que é preciso da Feira de Porto Alegre, fazendo com que seja um triunfo da cultura e da educação.
O patrono ainda falou sobre o poder transformador do livro:
— Sempre fui um leitor voraz desde a infância. E acredito que a leitura pode mudar o mundo.
O anúncio foi acompanhado por autoridades estaduais e municipais, como Benhur Bortolotto (Departamento de Livro, Leitura e Literatura) representando a Secretaria da Cultura do Rio Grande do Sul e o prefeito Sebastião Melo. Em entrevista a GZH, Melo falou sobre a escolha de Tabajara como patrono.
— A Feira tem sido muito feliz na escolha dos seus patronos. Eu diria que o Tabajara talvez seja o sucessor mais legítimo de Erico Verissimo, que compreende a alma do gaúcho. É um escritor brilhante. Já li várias obras dele. É um brilho enorme da nossa Feira do Livro ter o Tabajara nos liderando nesta jornada — comentou o prefeito.
Vida e obra
Marcelino Tabajara Gutierrez Ruas nasceu em Uruguaiana, na Fronteira Oeste. Formado em Arquitetura, sua trajetória se direcionou para a literatura e o cinema. Por sua atuação política contra a ditadura militar, Tabajara precisou viver no exílio entre 1971 e 1981. Neste período, o escritor passou por Uruguai, Chile, Argentina, Dinamarca, São Tomé e Príncipe e Portugal.
O romance de estreia do autor, A Região Submersa, saiu primeiro no Exterior e só foi ser publicado no Brasil em 1978. A seguir, ele escreveu outros romances como O Amor de Pedro por João (1982), Os Varões Assinalados (1985), Perseguição e Cerco a Juvêncio Gutierrez (1990), Netto Perde Sua Alma (1995) — vencedor do Prêmio Açorianos de Literatura na categoria narrativa longa, em 1996 —, O Fascínio (1997), O Detetive Sentimental (2008) e Gumercindo (2014).
Seja na narrativa literária ou cinematográfica, uma parte da obra de Tabajara é permeada pelas histórias e mitos do Rio Grande do Sul — casos de Os Varões Assinalados, Netto Perde Sua Alma e Gumercindo.
Tabajara também teve incursões na literatura juvenil — como em Meu Vizinho Tem Um Rottweiler (E Jura que Ele É Manso), de 2007, A Trilha da Lua Cheia, de 2012 (ambos com Nei Duclós), e Minuano, de 2014. Ele também escreveu Um Porto Alegre: Crônicas (1998) e Crônicas (2015), além de roteiros para quadrinhos, casos de A Guerra dos Farrapos (com Flavio Colin) e História/Histórias de Porto Alegre (com Edgar Vasques e Liana Timm).
O autor produziu livros-ensaios em parcerias com outros autores, vide O Melhor De Mario Quintana (2013), com Armindo Trevisan e Dulce Helfer, e A Cabeça de Gumercindo Saraiva (1997), com Elmar Bones, mesclando ensaio e reportagem para contar a história do líder maragato que teve a cabeça decepada pelos inimigos e levada para Júlio de Castilhos. Mais tarde, ele retomaria a história na novela Gumercindo (2014), além de adaptar a história para o cinema em 2018.
Há também o lado cineasta de Tabajara, que é igualmente prolífico: ele assinou o roteiro de variados projetos (por exemplo, Anahy de las Misiones e O Tempo e o Vento) e dirigiu longas. Ao lado de Beto Souza, ele adaptou Netto Perde Sua Alma em 2001, que recebeu o Kikito de melhor filme no Festival de Cinema de Gramado e fez trajetória em festivais nacionais e internacionais.
Tabajara também dirigiu o documentário Brizola: Tempos de Luta (2007) e os longas de ficção Netto e o Domador de Cavalos (2008), Os Senhores da Guerra (2014) e A Cabeça de Gumercindo Saraiva (2018).
O artista já foi condecorado com a ordem do Mérito Judiciário do Trabalho, no grau de Comendador, recebeu a Medalha da Vitória do Ministério da Defesa, o Prêmio Erico Verissimo, a Medalha do Mérito Farroupilha, o Troféu Guri e o título de cidadão de Porto Alegre. Ele ainda foi agraciado em 2020 com o Troféu Escritor do Ano do Prêmio Academia Rio-Grandense de Letras.
Planos
Como relata reportagem de GZH publicada no ano passado, Tabajara estava filmando uma nova adaptação cinematográfica de sua obra literária: Perseguição e Cerco a Juvêncio, que ganharia uma versão nova do livro homônimo do autor. A estreia do longa está prevista para o ano que vem. A história será ambientada em Cacequi, visto que não há mais locomoção de trens na ponte que integra o cenário original, em Uruguaiana. A trama aborda o rito de passagem da adolescência para a vida adulta e se aproxima de questões humanas como o sentimento de culpa.
Ele também trabalha em um livro sobre a campanha da Força Expedicionária Brasileira (FEB) na Itália, durante a Segunda Guerra Mundial.