Em cerimônia realizada nesta segunda-feira (24) no Palácio Nacional de Queluz, em Sintra, em Portugal, com a presença do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, Chico Buarque recebeu o Prêmio Camões.
O músico e escritor foi escolhido para receber a honraria em 2019, na gestão do presidente Jair Bolsonaro, que se recusou a cumprir o rito de assinar o documento exigido para reconhecer o mérito. O Prêmio Camões de Literatura é concedido a autores que tenham "contribuído para o enriquecimento do patrimônio literário e cultural" do idioma por meio do conjunto de sua obra.
Emocionado e bem-humorado, Chico agradeceu os presentes, fez brincadeiras e lembrou do pai, o historiador e sociólogo Sérgio Buarque de Hollanda, que o incentivou nos estudos, na música e no ativismo social.
— Lá se vão quatro anos que meu prêmio foi anunciado e eu já me perguntava se me haviam esquecido ou, quem sabe, se prêmios também são perecíveis, têm prazo de validade — disse ele. — Hoje, porém, nesta tarde de celebração, reconforta-me lembrar que o ex-presidente teve a rara fineza de não sujar o diploma do meu Prêmio Camões.
Antes do discurso do homenageado, fizeram as suas manifestações o presidente do júri do prêmio, Manuel Frias, o presidente de Portugal, Marcelo Rebelo de Sousa, e o presidente Lula.
— Hoje, para mim, é uma satisfação corrigir um dos maiores absurdos cometidos contra a cultura brasileira nos últimos tempos. Digo isso porque esse prêmio deveria ter sido entregue em 2019 e não foi. Todos nós sabemos por quê — afirmou Lula em seu discurso. — Chico transformou em patrimônio literário comum os amores de nossos povos, as alegrias de nossos carnavais, a beleza de nossos fados e sambas, as lutas obstinadas de nossas cidadãs e de nossos cidadãos pela conquista da liberdade e da democracia.
Sousa comparou a conquista de Chico a de Bob Dylan, que recebeu o Nobel de Literatura, ressaltando que o brasileiro, além da obra evidenciada em letras musicais, também escreveu diversos livros. O presidente português também ressaltou o ativismo do músico contra a ditadura, lembrando a letra de Meu Caro Amigo, e pedindo desculpas pela demora ao entregar o prêmio.
No campo da literatura, Chico é autor de obras como os romances Estorvo (1991), Benjamin (1995), Budapeste (2003), Leite Derramado (2009) e O Irmão Alemão (2014). Seu trabalho também abarca teatro (Gota D'Água, de 1975, e Roda Viva, de 1967, por exemplo) e literatura infantil (Chapeuzinho Amarelo, de 1970).
Lula está em viagem oficial a Portugal e a ministra Margareth Menezes o acompanha. A titular da pasta da Cultura pretende fechar acordos entre os dois países, incluindo um tratado de cooperação para o fomento à coprodução cinematográfica e o retorno do Brasil ao Programa CPLP Audiovisual.