Com sites alardeando ofertas imperdíveis sem precisar sair de casa, folhear um livro e comprá-lo direto do livreiro fica parecendo coisa do passado. Mas quem passear pela Praça da Alfândega verá que a Feira do Livro de Porto Alegre não só resiste, como parece ainda mais forte.
Eram muitas as famílias que circulavam pelas 71 bancas na manhã deste sábado (29), o primeiro final de semana de Feira, que chega a 68ª edição. Inclusive muitas crianças, algo que pode parecer alentador diante de uma infância cada vez mais vidrada em computadores e smartphones.
Daniela Dal Astra, 37 anos, levou a filha para que a menina lançasse seu primeiro livro, escrito junto com os colegas da turma do 2° ano do Ensino Fundamental do Colégio Marista Rosário. Aos sete anos, Isabela já conhece o gostinho de escrever uma história e ver seu nome estampado na capa de uma obra.
— É legal incentivar a criatividade, principalmente agora na infância. Isso, na fase adulta, vai possibilitar outras vivências — diz Daniela, que é professora. — É verdade que alguns livros são mais baratos na internet, mas é legal que as crianças peguem o livro na mão, que saibam como é.
Professora dos anos inicias da rede pública de ensino em Capão da Canoa, Angelita Wamser, 45 anos, fez questão de vir à Capital com a filha, Cíntia, 12 anos, para que as duas renovassem sua estante de livros. Segundo a mãe, tirar um dia para visitar a Feira do Livro é tradição da família. Ela tem até um macete para evitar o gasto desenfreado:
— A gente passa por todas as bancas, avalia bem, e os livros que ficaram no coração, a gente volta lá e compra. Não dá pra comprar tudo — diz Angelita, que acabou adquirindo obras sobre o bioma brasileiro para trabalhar em sala de aula.
Tiago Nenê, 42 anos, esperava que o filho Cássio, seis anos, terminasse de assistir a um espetáculo com palhaços, uma das atrações da área infantil da Feira, para seguir passeando com a família. Na visão do bancário, um espaço pensado para os pequenos é algo que precisa ser valorizado.
— Aqui na área infantil podemos dedicar um tempo só com as crianças. Afinal, elas são nossos futuros adultos — observa.
Quem conferia a movimentação no primeiro sábado de feira era a escritora Clara Corleone, autora de Porque era ela, Porque era eu (L&PM, 2021), que neste ano irá lançar Predadores (L&PM), seu segundo romance. Provocativa, foi direto ao ponto ao falar sobre a vantagem de comprar dos livreiros:
— Comprar nos grandes sites é dar dinheiro para quem já é rico. Já comprar na Feira é uma forma de incentivar os pequenos livreiros. Sem falar que aqui tem muito saldo — diz Clara, que admite sempre levar obras em promoção.
Grandes expectativas
A Câmara Rio-Grandense do Livro projeta um número alto de visitantes para a edição deste ano: 1,5 milhão de pessoas, 200 mil a mais do que o público registrado em 2019, antes da pandemia. Responsável pela área comercial da Libretos, editora que participa da feira há 13 anos, Andreia Ruivo também tem grandes expectativas.
Segundo ela, as vendas foram excelentes em 2021, quando a feira retornava à Praça da Alfândega e sequer havia ampla vacinação das pessoas contra a covid-19. Agora, em um cenário mais seguro para a saúde, só resta esperar que a edição deste ano traga um retorno ainda maior. A recepção ao público promete ser de qualidade.
— Aqui na banca, a gente pode contar toda a história do autor. Como a Libretos também é uma editora, nós vimos esses livros desde o original. Esse diálogo enriquecedor com o público faz as vendas aumentarem ainda mais — diz Andreia.
Um motivo a mais para visitar a Feira do Livro é a Bienal do Mercosul, sediada nos três museus que circundam a Praça da Alfândega — o Margs, o Memorial do RS e o Farol Santander. Enquanto a feira se encerra no dia 15 de novembro, as exposições de arte ficam até dia 20, com visitação gratuita.