J.K. Rowling, autora da saga Harry Potter chamou atenção recentemente por conta do lançamento de seu novo livro, The Ink Black Heart, que traz uma protagonista com ideias bem parecidas com as suas e tão polêmicas quanto. Na obra, que ainda não tem previsão de lançamento no Brasil, Edie Ledwell é a criadora de um famoso desenho animado e passa a ser perseguida e ameaçada por internautas por ser considerada transfóbica, racista e capacitista. No desenrolar da trama, a personagem é morta por um de seus críticos.
A história é bem semelhante a de J.K., que passou a receber ameaças de morte após tecer comentários contra pessoas trans nas redes sociais. A escritora afirma que a ideia do livro nasceu antes dos episódios que ocorreram com ela, mas o público não parece acreditar nessa afirmação. A publicação é o sexto volume da série Cormoran Strike, escrita pela autora sob o pseudônimo Robert Galbraith. O quinto livro, Troubled Blood, foi lançado em 2020 e também foi alvo de críticas a respeito da representatividade LGBT+. Na trama, um serial killer se veste de mulher para assassinar suas vítimas.
Após a notícia do novo livro e sobre o que ele se trata circular pela internet, J.K. voltou a ser um dos assuntos mais comentados nas redes sociais, com uma enxurrada de críticas ao posicionamento dela, mas também com muitos defendendo suas ideias. Com os ânimos acesos por conta do histórico da escritora, GZH relembra as polêmicas em que J.K. está envolvida. Confira:
Declarações que deram o que falar
Tudo explodiu em 2020, quando a autora da saga de bruxos, usuária ferrenha do Twitter, ironizou um artigo que usava o termo "pessoas que menstruam". De acordo com ela, pessoas que menstruam são mulheres. O artigo, no entanto, estava tomando o cuidado de ser inclusivo com mulheres trans, que não menstruam, e homens trans que menstruam. A partir deste episódio, que lhe rendeu diversas críticas nas redes, a autora começou a manifestar de forma mais explícita a sua opinião sobre as pessoas trans.
Na tentativa de expressar seu ponto de vista, a escritora chegou a dizer que não considerava que mulheres trans fossem "mulheres verdadeiras", e que até as defenderia se sofressem discriminação por serem quem são, mas que não acha que são capazes de entender o que é fazer parte do gênero. "Se o sexo não é real, a realidade vivida das mulheres em todo o mundo é apagada. Conheço e amo pessoas trans, mas apagar o conceito de sexo remove a capacidade de muitos discutirem significativamente suas vidas", escreveu.
Antes disso, em dezembro de 2019, ela já havia demonstrado o que pensa sobre o assunto: quando a pesquisadora Maya Forstater foi demitida de seu emprego no Centro de Desenvolvimento Global por criticar um projeto do governo britânico que facilitaria a pessoas transgênero mudar de sexo legalmente, J.K. se posicionou a favor da profissional. "Vista-se como quiser. Chame a si mesmo do que quiser. Durma com qualquer adulto que consinta com você. Viva sua melhor vida em paz e segurança", publicou sobre o caso. "Mas forçar as mulheres a deixarem seus empregos por afirmarem que sexo é real? Eu apoio Maya". O assunto no entanto, não chegou a repercutir tanto na época.
Com o tempo, o tom de suas manifestações se tornou ainda menos amistoso com a comunidade LGBT+. Em um artigo, J.K. chegou a afirmar que se preocupava com a presença de mulheres trans em banheiros femininos, pois elas podiam acabar abusando sexualmente das mulheres cisgênero. No Twitter, ela compartilhou uma publicação de uma loja que vende itens com frases como "mulheres trans são homens".
Repercussão
Em novembro de 2021, a escritora declarou que estava recebendo ameaças de morte por conta de suas ideias, incluindo pessoas que divulgaram fotos em frente à casa dela. Em seu site, a criadora do universo bruxo afirmou que existe uma explicação para seu receio em relação à presença de mulheres trans em banheiros femininos. De acordo com o texto, ela foi vítima de abuso sexual no passado e se sente mais segura em locais que distinguem o público pelo sexo biológico. "Estou mencionando essas coisas agora, não em uma tentativa de obter simpatia, mas por solidariedade com o grande número de mulheres que têm histórias como a minha, que foram classificadas como fanáticas por se preocuparem com espaços de sexo único", escreveu.
Uma outra questão foi levantada pelos críticos da artista a respeito de seu posicionamento: o pseudônimo adotado por ela para a publicação de determinados livros, Robert Galbraith, é bastante semelhante ao nome de um famoso psiquiatra, Robert Galbraith Heath, que utilizava experimentos agressivos para tentar "converter" seus pacientes homossexuais à heterossexualidade. Em resposta à acusação, J.K. afirmou em nota oficial no site da série de publicações que nunca foi sua intenção fazer referência ao médico. "Escolhi Robert porque é um dos meus nomes masculinos favoritos, porque Robert F. Kennedy é meu herói. Galbraith surgiu por uma razão um pouco estranha. Quando eu era criança, eu realmente queria ser chamada de 'Ella Galbraith', e não tenho ideia do porquê", escreveu.
Ainda em 2020, após a repercussão das opiniões da autora acerca do assunto, artistas como Stephen King, Margaret Atwood, Roxane Gay, Neil Gaiman, John Green, NK Jemisin e Angie Thomas assinaram uma carta aberta que defende os direitos da população transgênero. Atores dos filmes da saga Harry Potter como Daniel Radcliffe e Emma Watson também se manifestaram contra as declarações polêmicas da escritora. Como consequência, J.K. não participou do especial de aniversário de 20 anos dos filmes do bruxo.
A Warner Bros., responsável pela franquia Harry Potter e Animais Fantásticos lançou nota sobre a situação, afirmando-se favorável à diversidade mas enfatizando que seguia em relação amistosa com a autora: "Valorizamos muito nossos contadores de histórias que dão tanto de si para dividir suas criações conosco. Reconhecemos nossa responsabilidade de mostrar empatia e defender a compreensão de todas as comunidades e pessoas, particularmente aquelas com quem trabalhamos e aqueles que alcançamos com nosso conteúdo", dizia o comunicado.
