O deputado federal Daniel Silveira vai receber da Biblioteca Nacional a medalha da Ordem do Mérito do Livro, tradicionalmente concedida pela instituição a pessoas que contribuem com a literatura. Até o momento, a entidade não justificou a honraria, entregue nesta sexta-feira (1º) em duas sessões: uma foi realizada às 10h30min e a outra será às 15h30min. As informações são da colunista Mônica Bergamo, da Folha de S.Paulo.
A homenagem é concedida a acadêmicos, autoridades e intelectuais que contribuem para o universo da literatura. Entre os que já receberam a medalha estão Carlos Drummond de Andrade e Gilberto Freyre.
Neste ano, a medalha será entregue a 200 personalidades por conta do bicentenário da Independência do Brasil. A lista dos contemplados, no entanto, não foi divulgada pela Biblioteca Nacional, que informou em seu site que a instituição ficará fechada nesta sexta, "por motivos de força maior".
Silveira foi preso em fevereiro de 2021 depois de publicar um vídeo em que atacava os ministros do Supremo Tribunal Federal (STF) e defendia o Ato Institucional nº 5 (AI-5). Em abril passado, o deputado foi condenado a oito anos e nove meses de prisão, em regime inicial fechado, pelos crimes de ameaça à democracia e coação durante o processo. No dia seguinte, Bolsonaro assinou decreto que concedeu "indulto individual" ao deputado federal.
Livre da condenação, Silveira se tornou, ainda em abril, membro titular da Comissão de Constituição e Justiça (CCJ) da Câmara dos Deputados, a mais importante da Casa. O ato foi interpretado à época como uma nova afronta ao Supremo.
Repercussão
Após a informação de que Daniel Silveira seria agraciado com a medalha da Biblioteca Nacional vir à tona, imortais da Academia Brasileira de Letras (ABL) que receberiam a honraria neste ano anunciaram recusa.
No Twitter, o escritor, poeta e tradutor Marco Lucchesi criticou a indicação do deputado. "Se eu aceitasse a medalha, seria referendar Bolsonaro, que disse preferir um clube ou estande de tiro a uma biblioteca", afirmou o intelectual.
Ao colunista Ancelmo Gois, de O Globo, o professor emérito da UFRJ Antonio Carlos Secchin justificou a recusa dizendo que a cerimônia "se constituirá na celebração de uma única diretriz política, agraciando pessoas sem relação com livros, biblioteca e cultura".