Autor de canções que se entrelaçam com a história de vida dos brasileiros, Toquinho volta a Porto Alegre nesta sexta-feira (1°). Acompanhado da cantora goiana Camilla Faustino, ele apresenta o show A Arte de Viver.
Apesar de levar o nome de seu disco mais recente, lançado em 2020, a apresentação repassa os mais de 55 anos de trajetória do cantor, músico e compositor, trazendo sucessos como Tarde em Itapuã, Que Maravilha, Regra Três, Samba de Orly, Aquarela e Caderno.
Aos 75 anos (completa 76 no dia 6 de julho), Toquinho se solidificou como um dos artistas mais importantes da MPB, realizando parcerias seminais com nomes como Vinicius de Moraes, Chico Buarque, Jorge Ben Jor e Paulinho da Viola. Celebrando essa trajetória, ele lançou em 2020 a série Minha História em 20 Canções, disponível pela plataforma Hotmart. São vídeos em que o compositor conta a história de suas músicas mais representativas e esmiúça especificidades técnicas.
Em entrevista a GZH, Toquinho falou sobre o show e suas composições.
Como foi construído o espetáculo A Arte de Viver? E o que o público gaúcho pode esperar?
Meu repertório é vasto, o que facilita montar um espetáculo. Mas prefiro escolher sucessos de minha carreira, canções que o público gosta de ouvir e cantar junto. Talvez com a inclusão de músicas do recente CD A Arte de Viver. Alguns solos de violão são inevitáveis, eles são a base de tudo. Além de homenagens a parceiros e outros músicos que influenciaram meu desenvolvimento artístico. Gosto de contar histórias curiosas que permeiam minha carreira e que acabam divertindo o público. Ressalta-se a participação de Camilla Faustino, jovem cantora que me acompanha há alguns anos, valorizando os shows com seu timbre vocal e afinação extraordinária.
A Arte de Viver leva o nome de seu disco de 2020, que, por sua vez, é o título de uma das faixas do álbum. A música traz versos como "Deixa correr/ A vida sempre vai lhe surpreender/ Cada revés o tempo vai resolver/ Que o mundo joga pra você". Com o passar dos anos, a arte de viver vai ficando mais suave?
"Que o mundo joga pra você." É isso, a vida favorece quem sabe lidar com seus desafios. A arte de viver implica enfrentar rudezas e suavidades em todas as fases da vida. Só que a experiência ensina a suavizar as rudezas mais desafiadoras. Aprendemos a nos sentir leves ao aceitar ou recusar; ir ou não ir; dizer não sem culpa; pedir ajuda sem constrangimento. Suavizar a vida é perceber o amor que existe na compreensão das diferenças.
No mesmo disco, há Fato Novo, que reflete a situação do Brasil contemporâneo. Teve algum fato em especial que o inspirou para esta música? Que tipo de retrocesso citado na letra o preocupa mais?
A letra reflete a triste realidade que não se consegue mudar. O Brasil sempre viveu de lampejos otimistas que não se completam. O povo se deliciava com a prisão daqueles que pareciam invulneráveis. Era mais um lampejo de saudável mudança. Mas durou pouco, parece que tudo voltou ao anormal, com prognósticos ainda piores.
Como você conheceu Camilla Faustino? O que você destacaria no trabalho dela?
Camilla é uma cantora completa. Timbre, extensão de voz, afinação, facilidade de improvisação, diversidade de repertório, tudo perfeito. Cantando só ou em dueto comigo, sua performance é primorosa. Eu a conheci há seis anos, vencendo de forma brilhante um concurso no Programa Raul Gil. Não tive dúvidas, começamos a trabalhar num show na Colômbia. Bastou para que ela permanecesse até hoje contribuindo com sua jovialidade, beleza brejeira e talento indiscutível.
Após mais de 55 anos de trajetória, o que segue motivando-o como artista? O que traz inspiração para seguir compondo e subindo ao palco?
Perdura a sensação de uma constante renovação e de um contínuo aprimoramento. Cada ano robustece o seguinte, e as décadas se diluem na descoberta de técnicas novas e na extensão do vigor ampliado pelas conquistas e pelos sucessos. O tempo não apaga o que nos arde na alma. Essa longa trajetória só pode ser alcançada com muita dedicação. Eu me considero um artesão, sempre apoiado no violão que representa o início e o desenvolvimento de tudo. E a música será sempre uma chama a aquecer minha dedicação ao instrumento. Estudo todos os dias à procura de novos acordes e harmonias. Amo fazer o que faço, o palco é a extensão de minha casa. Nele sou simples e íntimo da plateia. Meu violão é meu equilíbrio com a vida. Estudo muitas horas a cada dia e nos palcos redobro meu prazer pela música e pelo público. Não há como parar, meu descanso é o trabalho de minha arte.
O processo de composição segue o mesmo? Como tem sido trabalhar em novas canções?
A arte exige um artesanato constante, um buscar e rebuscar, fazer e refazer. Construir acordes e harmonias é o mesmo que lapidar um brilhante, modelar uma peça, pintar um quadro. Só que a música nasce do invisível que se esconde na alma. O artesanato é mais encantador.
Como você avalia a atual produção da música brasileira? Tem algo que você destacaria?
A música brasileira é dinâmica por natureza. Sempre houve períodos vazios de talentos, que passam a surgir num estalar de dedos. Há muita gente boa trabalhando para se consolidar no cenário musical atual. Há que não ter pressa para isso acontecer.
Quais são os seus projetos para o restante do ano?
Tenho uma agenda repleta de shows para o semestre aqui no Brasil e na Itália. Os próximos meses serão dedicados a viagens e shows. Há um projeto sendo elaborado sobre uma história infantil que deverá ficar para 2023.
Toquinho e Camilla Faustino em "A Arte de Viver"
- Nesta sexta-feira (1°), às 21h, no Salão de Atos da PUCRS (Av. Ipiranga, 6.681), em Porto Alegre.
- Ingressos a partir de R$ 170. Pontos de venda: pelo site guicheweb.com.br e pela PUC Store (Biblioteca Central Irmão José Otão, no prédio 15 da PUCRS, na Av. Ipiranga, 6.681).
- Desconto de 50% para sócios do Clube do Assinante.