O palco do Domingão com Huck virou festa de aniversário neste domingo (26), para celebrar os 80 anos de Gilberto Gil. Em uma edição especial, o programa reuniu o aniversariante do dia ao lado dos filhos Preta, José e Ben, dos netos Francisco, Flor e João e da companheira Flora. Teve muita emoção, mas também muita música.
A primeira canção interpretada pelo clã foi Palco, lançada por Gil em 1981. Logo após a canja musical, em tom bem humorado, Gil falou sobre o que significa chegar aos 80 anos.
— Se não morre, vai vivendo — disse ele, arrancando risadas dos familiares. — A gente nem tem tempo de ver o tempo passar. São tantas coisas, tantas ocupações, tantas preocupações também... — completou.
Em seguida, Flor contou a história de Gilberto Gil em um VT especial. Na narração, a filha de Bela Gil destacou os feitos do avô, como o fato de ter sido ministro da Cultura e sua recente entrada na Academia Brasileira de Letras, e afirmou que, muito antes de ela nascer, ele "já tinha feito do mundo um lugar melhor".
— Quando eu cheguei aqui, Gil já tinha sido preso pela Ditadura que tanto combateu, já tinha sido exilado em Londres. Quando eu nasci, meu avô já tinha subido a todos os palcos do mundo, ao lado de artistas tão grandes quanto ele — destacou Flor, que tem 13 anos.
A homenagem foi completa pelo quadro Visitando o Passado, que recriou a casa em Salvador onde Gil viveu dos oito aos 20 anos, na companhia de sua tia Margarida e da avó Lígia. Gil se emocionou ao encontrar o piano de sua irmã, uma réplica do doce de leite que costumava ser feito pela avó e o tabuleiro de futebol de botão que era seu xodó durante a infância.
Foi nesta casa que ele passou anos longe dos pais, que moravam no Interior. A mudança, contou, foi necessária para que ele pudesse estudar. Ao relembrar deste período, Gil destacou que, anos depois, a história se repetiu com ele, quando deixou as filhas mais velhas aos cuidados dos avós, em outra cidade, porque precisou sair do país para fugir da perseguição da Ditadura Militar.
— Nós fomos presos 15 dias depois do AI-5, em dezembro. Eu e Caetano (Veloso). Passamos janeiro, fevereiro e saímos na quarta-feira de cinzas. Ficamos mais de seis meses em prisão domiciliar, em Salvador, e depois fomos pro exílio em Londres — lembrou o músico.
Caetano, aliás, também participou da homenagem ao amigo de longa data. Em um vídeo, o ex-parceiro de Tropicália lembrou que conheceu Gil pela televisão, ao vê-lo tocar em programas da Bahia, e aproveitou para exaltar o talento do músico que, anos depois, viraria quase um irmão.
— Minha mãe falava: "Caetano, venha ver o preto que você gosta na TV"— lembrou Caetano. — O que eu mais admiro no Gil é a exuberância. Isso se dá visivelmente na música. Ele pega um violão e cascatas de ideias vão se sucedendo — elogiou.
Esta exuberância começou a dar os primeiros sinais quando Gil ainda era apenas um menino baiano, conforme ele próprio destacou. Com 80 anos recém completos e cercado pelos filhos e netos, o ícone da música brasileira lembrou que, com dois ou três anos, sua mãe lhe perguntou o que ele queria ser na vida. A resposta foi quase uma previsão.
— Eu respondi: "Mãe, quero ser 'musiqueiro' e pai de menino" — contou, puxando em seguida uma canção com os demais "musiqueiros" da prole.