As rimas já não eram suficientes para o rapper Rafael Rafuagi dar o seu recado. Então, o ativista gaúcho resolveu escrever um livro para ampliar sua linha de pensamento e estimular outros atores culturais da periferia a promoverem ações de educação e arte. O resultado é Teoria Prática: A História das Juventudes na Engenharia Social, publicado pela editora Criação Humana com contribuição do Fundo Municipal de Apoio à Produção Artística e Cultural de Esteio (Funproarte).
A obra tem lançamento em Esteio neste sábado (18), às 16h, na Biblioteca Pública Municipal Rui Barbosa, junto à Casa de Cultura Lufredina Araújo Gaya (Rua Padre Felipe, 900). Em Porto Alegre, está previsto um encontro na terça-feira (21), no Centro Cultural Vila Flores (São Carlos, 753), às 19h. Apesar de o MC ser conhecido e ter uma produção musical prolífica, esta é a estreia dele na literatura.
— Foi minha primeira experiência escrita. Escrevi em cerca de uma semana, mas foram uns 10 meses para lapidar a ideia. Escolhemos como data de lançamento oficial o dia 10 de dezembro, que é Dia Internacional dos Direitos Humanos — explica Rafa.
A narrativa, segundo o autor, é propositiva e conta pormenores que podem ajudar outras pessoas em ações inclusivas. Entre os exemplos que ele descreve, o rapper e escritor destaca a criação da Casa da Cultura Hip Hop, em Esteio, e o Museu do Hip Hop, em Porto Alegre.
— O primeiro passo para quem quer agir não é querer inventar a roda, mas colocar ela a girar. Não é ser a pessoa que tem a melhor ideia, mas sim colocar boas ideias em prática — sugere Rafa, que tem no currículo 265 prêmios, entre eles o Prêmio Hutúz 2006/2009, da Cufa, e o Prêmio Estadual de Direitos Humanos 2013 na categoria Garantia dos Direitos da Juventude.
O MC também mantém uma rede de contatos mundo afora, com gente que faz trabalhos sociais inspiradores. Ele cita como exemplo Medelín e Bogotá, cidades colombianas que eram dominadas pelo tráfico e pela violência, mas que, por meio de atividades culturais e educativas, conseguiram pacificar áreas conflagradas e transformar a realidade com a participação popular.
— Acho que, se foi feito lá, pode ser realizado em qualquer outro lugar. Cada ator comunitário ou produtor deveria ver isso — argumenta.
Teoria Prática: A História das Juventudes na Engenharia Social tem prefácio do sociólogo Boaventura de Sousa Santos e posfácio de Emicida, parceiros do rapper gaúcho há tempos.
Para Rafa, o funk e o rap são armas poderosas de conscientização na periferia e entre a comunidade negra. E devem ser usadas não apenas apontando problemas, mas também soluções. Sobre a literatura, ele diz que baseou seu texto de maneira não acadêmica e até multimídia, para que os jovens sintam-se atraídos.
— Eu também tive dificuldade para gostar de leitura. Tudo parecia muito chato. Então, usei uma linguagem dinâmica, com QR Code para acionar as redes sociais e ilustrar situações das quais estou falando — explica.
Em Porto Alegre, a atividade de lançamento terá debate com mediação dos irmãos Antonia Chaves Barcellos Wallig e João Felipe Chaves Barcellos Wallig sobre o livro e uma das bandeiras de Rafa: um plano de décadas para as periferias e favelas sul-americanas por meio do protagonismo juvenil continental.