– Todo começo é involuntário, já dizia Fernando Pessoa.
É assim que o músico, compositor e jornalista Arthur de Faria explica como se deu o início do que se tornaria uma das mais extensas pesquisas sobre a história da música produzida na Capital. Após lançar Elis: Uma Biografia Musical (Arquipélago), em 2015, ele se prepara para continuar publicando em livro o material que reuniu ao longo de décadas. O próximo lançamento, provavelmente ainda neste ano, será Porto Alegre: Uma Biografia Musical I, que abarca desde os primórdios da cidade até a popularização da televisão, no começo dos anos 1960.
Parte do conteúdo de toda essa pesquisa foi escrita ainda em meados dos anos 1990, quando Arthur trabalhava como jornalista no suplemento ZH Zona Norte. Entre outros assuntos, cobria a área da cultura – escrevendo, por exemplo, sobre o rock do bairro IAPI. Dali em diante, nunca mais parou de escrever sobre a música da Capital, ainda que a intenção inicial não fosse organizar tudo em livro. Em dado momento, Arthur cogitou lançar um volume único, mas Tito Montenegro, editor e sócio da Arquipélago Editorial, sugeriu separar em sete tomos (“lucidez”, elogia o autor). Além dos dois já citados, completarão a coleção obras sobre Lupicínio Rodrigues, Radamés Gnattali, rock gaúcho, música regionalista e, por fim, o segundo volume de Porto Alegre: Uma Biografia Musical.
– É todo o material que venho escrevendo há 30 anos, o trabalho de uma vida – diz Arthur. – Cada livro que leio e tem uma citação (aos temas), vou lá e pego a informação. Vou juntando recorte de jornal e pesquisando em biblioteca.
Outros trabalhos marcaram os últimos meses. Como músico, Arthur lançou no final de maio Tum, o primeiro de dois EPs que antecedem o álbum da Tum Toin Foin. Ao lado do artista, integram a superbanda Agne Bazarnni e Adolfo Almeida Jr. (fagotes), Julio Rizzo (trombone), Miriã Farias (violino), Gabriel Romano (acordeom), Giovanni Berti (percussão), Bruno Vargas (baixo elétrico), Erick Endres (guitarra) e Güenther Andreas (bateria). A mistura resulta em uma sonoridade limpa parecida com a de uma orquestra de câmara, mas cheia de informação, desafiando os limites entre o clássico e o popular.
– Estou muito feliz, tenho amigos que me acompanham a vida inteira. Agora, um deles disse: “Finalmente consegui entender o que é dissonância e o que estava errado!” – diverte-se Arthur.
Mutantes
Neste ano, os brasileiros finalmente podem ouvir Fito Paez e outros artistas hispanohablantes interpretando faixas de uma das maiores bandas brasileiras. El Justiciero Cha Cha Cha: Un Tributo a Os Mutantes, disco de 2011 que tem Arthur entre os produtores, finalmente chegou às plataformas de streaming.
Apesar da importância dos Mutantes, o álbum nunca tinha sido lançado por aqui devido a questões burocráticas, conta Arthur: Sandro Belo, dono do Selo Allegro, não somente desistiu de lançar o disco por ter ficado constrangido de pedir favores para os artistas a fim de solucionar problemas de papelada, como não quis mais ter uma gravadora. A provocação para retomar o projeto partiu do músico Manuel Onís, com quem Arthur, junto do jornalista Humphrey Inzillo, produziu o disco.