Lembra como era chegar próximo ao palco de um show? O corpo vibrando com a música que saía das caixas de som. Parece até terremoto, mas é música. Saudades, não? É esse exato momento que inspirou o título do livro Quando o Som Bate no Peito, do jornalista e escritor Márcio Grings. A publicação será lançada nesta terça-feira (8), às 19h, em live transmitida pelo canal Pitadas do Sal no YouTube.
Em sua nona obra, Grings reúne 34 resenhas de shows internacionais que passaram pelo Rio Grande do Sul nos últimos 23 anos — especialmente Porto Alegre e Santa Maria, esta a cidade onde o jornalista vive. Quando o Som Bate no Peito traz a experiência do autor em apresentações de grandes nomes do rock e do blues: Bob Dylan, Paul McCartney, Rolling Stones, The Who, Roger Waters, Eric Clapton, Deep Purple, Black Sabbath, Queen com Adam Lambert, entre outros. Acompanhando os textos, há 130 imagens realizadas por 18 fotógrafos, alguns com passagens por veículos como GZH e Rádio Itapema.
O autor, que também atua como produtor cultural e ainda organizava excursões para shows na Capital, publicou as resenhas originalmente em suas colunas de jornais, no Blog do Grings e no site da Grings Tours. Para o livro, ele reeditou o material, mas procurou não fugir do tom original. O projeto foi viabilizado após aprovação em edital da Lei Aldir Blanc.
— Quando chegou a pandemia, eu estava para completar 10 anos dessa atividade (excursões para shows). Pensei: "Justamente no ano em que faço 10 anos, não vou assistir a nenhuma apresentação". Então, surgiu a ideia de lançar um livro, reunindo os shows que resenhei. Sou um cara que acredita nessa atividade, como memória cultural — explica o jornalista de 50 anos.
Grings atesta que trabalhar com música ou escrever sobre o assunto sempre foi uma atividade que o faz se sentir em casa. Para ele, a experiência musical é muito mais complexa do que apenas um exercício de entretenimento.
— As minhas grandes amizades foram feitas por meio da minha ligação com a música. É o lugar onde quero estar: trabalhando com música. Quando estou em paz comigo, a música está do meu lado — pontua o autor.
Além dos shows de rock que acompanhou de 2009 para cá, Grings registra algumas apresentações de blues que produziu em Santa Maria e a segunda vinda de Bob Dylan a Porto Alegre, em 1998.
— Este show do Dylan foi um divisor de águas para mim. Senti-me especial por estar lá naquele dia. É o artista que mais me influenciou. Para todos os lugares aos quais a música me levou, ninguém me levou como Bob Dylan — constata.
Além das experiências de Grings, Quando o Som Bate no Peito traz bastante da história do rock e do blues, ao contextualizar as bandas e artistas nas resenhas. Outra função importante do livro é servir como um catálogo de shows internacionais no RS.
— Muitos shows que eu assistia antes, eu procurava os registros na internet, mas não encontrava. Como memória cultural, acho fundamental guardar essas impressões, não só fotográficas — afirma.
Entre os registros de Quando o Som Bate no Peito, uma história bastante peculiar é a do show de 2011 do Nazareth, no Avenida Tênis Clube, em Santa Maria. Um dia antes do show, o então vocalista Dan McCafferty sumiu. Perdido pelas ruas da cidade, ele foi encontrado várias horas depois completamente alcoolizado num bar da periferia. Dan foi ciceroneado por um fã local e circulou pela cidade, ao lado de Robert Kennedy (falecido integrante da equipe da banda) para um passeio. Ao ver um ônibus com a inscrição "Kennedy" (bairro de Santa Maria), ele saiu correndo atrás do veículo para tentar fazer uma foto apenas para tirar sarro de Robert.
Grings observa que, no show, Dan fazia paradas estratégicas para buscar fôlego num tanque de oxigênio — o vocalista saiu da banda em 2013 por problemas pulmonares. Ainda na apresentação, ele apareceu vestindo uma camisa do clube de futebol Riograndense, da cidade.
Grings ressalta que nem todos os shows resenhados foram os mais emocionantes de sua vida, mas teve aqueles que o surpreenderam. Caso da apresentação de John Mayer, em POA, em 2017.
— Fui de barriga fria, não esperava ver nada sensacional. Não mudou minha vida. Mas como espetáculo, parecia que estava assistindo a um filme, com início, meio e fim. Fiquei muito impactado. Não comecei a ouvir John Mayer depois do show, mas achei interessante — relata.
Resgate de uma sensação
Na live de lançamento do livro, nesta terça (8), às 19h, no canal do YouTube Pitadas do Sal, haverá participação do músico Vinicius Brum tocando canções que fazem parte de alguns textos da publicação. Brum é colega de Grings na banda Harvest Moon, que presta tributo a Neil Young. Na transmissão, haverá bate-papo com o autor e com os fotógrafos que colaboram com a obra — Lauro Alves, Fábio Codevilla, Ton Müller e Pablito Diego.
Grings revela que já tem planos para um volume dois de Quando o Som Bate no Peito, trazendo shows de Bon Jovi e Katy Perry. Há atrações de sobra em seu currículo: ele lembra que teve um ano em que chegou a ver 21 apresentações internacionais. Porém, a pandemia freou a atividade.
— Para um cara que gosta da experiência musical, que acredita que cada show é único, está sendo muito duro. O lugar onde eu mais gosto de estar na minha vida é assistindo a um show.
O jornalista acredita que o Brasil ainda passará por uma readequação para a retomada de shows internacionais. Lembra que o país estava totalmente inserido no roteiro de shows nos anos anteriores da pandemia. Ele projeta que talvez os ingressos fiquem mais caros, ou que haja uma desaceleração das turnês vindas de fora. Será um patamar, no mínimo, diferente de antes.
— Isso é angustiante. Por isso acho que o livro traz um sentimento à tona: éramos felizes e não sabíamos — lamenta, apontando em seguida outra função de Quando o Som Bate no Peito. — É o resgate de uma sensação.
Quando o Som Bate no Peito
- Editora: Memorabília
- Páginas: 224
- Preço: R$ 60
- Onde comprar: memorabiliastore.com.br
- Outras informações sobre o projeto: www.quandoosombatenopeito.com.br