East of West é como a Morte: mais cedo ou mais tarde, ela te pega.
Recém lançada no Brasil pela editora Devir, esta é uma das histórias em quadrinhos autorais do roteirista americano Jonathan Hickman, popularizado pelas suas fases no comando de super-heróis da Marvel, como Quarteto Fantástico, Vingadores e X-Men – a propósito desses últimos, seus gibis sobre os personagens mutantes também começaram a chegar ao país, em edições da Panini.
Com desenhos de Nick Dragotta, cores de Rick Martin e tradução de Érico Assis, East of West: A Batalha do Apocalipse (152 páginas, R$ 55) é um faroeste futurista em que Hickman já deu o ponto final. A série durou de março de 2013 a dezembro de 2019 e foi reunida em 10 encadernados por sua editora, a Image.
Neste primeiro volume, já se pode perceber muitas das obsessões temáticas e estilísticas do autor americano de 47 anos. Estão lá, por exemplo, a ameaça de um apocalipse, a reinvenção da História, a imbricação entre ciência e religião, entre política e ocultismo. Também está lá o desafio ao leitor, desta vez desprovido dos mapas, dos diagramas, das listas de personagens e outros quetais vistos em obras igualmente complexas, como Pax Romana e The Black Monday Murders.
É por isso que, talvez – e para continuarmos citando os Cavaleiros do Apocalipse reimaginados por Hickman –, no início do gibi o leitor sinta uma Fome incontrolável por mais conhecimento sobre aquele universo que mistura o Velho Oeste à ficção científica. Um lugar onde, décadas depois de uma Guerra Civil que não acabou como no mundo real, os Estados Unidos foram divididos em sete nações – entre elas, a dos indígenas, a dos escravos libertos, a dos texanos e a dos chineses.
Ficamos um pouco perdidos no primeiro capítulo, mas aos poucos vamos conhecendo as peças desse enorme jogo de tabuleiro orquestrado por Hickman. Uma das mais reluzentes, ainda mais que pintada de branco da cabeça aos pés, das botas ao chapéu, é a Morte. Que, aqui, não é ela, mas ele, um caubói tenaz digno dos clássicos filmes de Hollywood.
— Não tem homem que eu não encontre — ele diz.
Mas a Morte está à procura de uma mulher.
A Morte está à procura do amor – "O motivo pelo qual um lobo perseguiria uma corva, mesmo sabendo que ele não voa, e que ela nunca precisa tocar o chão", como define um de seus companheiros de jornada e de matança, o Lobo, para a Corva, outra artista da atrocidade.
Em outra ponta do tabuleiro, move-se como as velhas e matreiras raposas da política Andrew Archibald Chamberlain, chefe do gabinete das Torres Negras. Onde muitos enxergam chamas, ele vê oportunidade. O que lhe falta de moral sobra de experiência - daí que não se melindra de peitar três pirralhos do Apocalipse que vêm à Terra à procura da desgarrada Morte.
Eis a ciranda macabra armada por Hickman, Dragotta e Martin. Que culminará em um balé sangrento, dando início a uma nova rodada no jogo em que a humanidade é um mero peão, passível de ser sacrificado em nome da crença ou da ambição – os motores dos homens, sejam eles mortais ou personagens bíblicos.