
Em Passo Fundo, 10.083 mães criam seus filhos sozinhas, mostra dado do último censo do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Conforme o levantamento, as mães não contam com companheiro na jornada de cuidar e educar em 23% das 42.743 casas chefiadas por mulheres na cidade.
A presença totalmente feminina também se destaca nos registros de nascimento. De janeiro a maio deste ano, a cidade registrou 1.143 nascimentos — desses, 5% só levava o nome da mãe. Conforme a presidente da Associação dos Registradores de Pessoas Naturais do RS (Arpen), Sidnei Hofer Birmann, o problema é social e se repete no Estado e no país:
— Percebemos desafios a serem enfrentados para reverter esse cenário, que reflete em questões sociais mais profundas. Mas sempre destacamos o quão importante é que toda criança tenha seu direito (de registro) assegurado, podendo ser feito de forma simples e eficiente diretamente no cartório.
Sozinhas, gerações de mulheres se unem na criação

A analista de sistemas Giovana Bressan engravidou aos 38 anos e cria sozinha o filho Oliver, 3, desde o começo. Para se restabelecer psicológica e financeiramente, a fortaleza foi outra mulher, a própria mãe, que ainda toma conta do pequeno para que Giovana possa trabalhar.
— Eu sonhava em ser mãe num conto de fadas, casando e tendo uma família. Mas o pai não assumiu o filho, foi embora assim que eu engravidei. Foi “um baque” para toda minha família, mas enfrentei essa situação e com ajuda, principalmente da minha mãe, e as coisas ficaram mais tranquilas.
Foi através da rede de apoio que Giovana conseguiu trocar de profissão, de educadora física para profissional de TI, e se especializar na área da tecnologia. Hoje, a principal preocupação enquanto mãe solo é suprir falta paterna para o filho e proporcionar uma criação em que ele se sinta completo e acolhido, tendo a mãe como porto seguro:
— Meu tempo é para trabalhar e cuidar do meu filho. Ainda tem dias que não é fácil e fico decepcionada com o abandono paterno, mas o Oliver é a minha força. Vou fazer de tudo para ele ser uma criança feliz, que se sinta acolhido e não sinta pela falta da outra figura. Ele tem uma mãe que sempre vai apoiar ele — almeja Giovana.
Mãe solteira aos 28

O desafio de cuidar sozinha do filho chegou para Beatriz Wiscenski Xavier aos seis meses de vida do pequeno Joaquim. Á época com 28 anos, ela se dedicou 100% a maternidade quando o relacionamento com o pai da criança chegou ao fim. Beatriz lembra que quando voltou a trabalhar, aos 11 meses do filho, o peso da separação agravou a saúde mental.
— Ficávamos apenas eu e meu filho praticamente 24h por dia, e essa separação por conta do trabalho foi a parte mais difícil pra mim. Minhas questões de saúde mental se agravaram muito. Se não fosse pelas outras mulheres na minha vida, minha mãe e avó paterna, eu não sei o que seria da minha maternidade — conta.
Hoje aos 31 e Joaquim com três anos, ela segue com responsabilidade total sobre os cuidados e decisões principais do filho, mas têm a presença do ex-companheiro na criação. Trabalhando como assistente de marketing, ela conta que vive o “sentimento mais puro” ao lado do filho:
— Passadas algumas demandas do início, que me exigiu muita energia física e mental e é quase sempre caótica para nós mulheres, hoje a maternidade é mais leve. Esse amor e sinergia não pode ser encontrado em lugar nenhum. Não há nada que me faça mais feliz que estar com meu filho, vendo ele aprender, brincar e se desenvolver como um ser-humaninho cheio de energia e alegria — finaliza Beatriz.