Há 60 anos narrando jornadas de formigas trabalhadoras, lobos malvados, baratas que anseiam pelo matrimônio e garotinhas de chapéu vermelho com dificuldades em reconhecer a própria avó, a Coleção Disquinho chega às plataformas de streaming, em uma playlist com 35 histórias infantis clássicas compiladas pela gravadora Warner.
Lançada em 1960 pela gravadora Continental, a série de compactos de vinil coloridos marcou diferentes gerações com as fábulas interpretadas na forma de radioteatro e intercaladas por canções.
Com arranjos e orquestrações assinadas por maestros como o gaúcho Radamés Gnatalli e o paulista Francisco Mignone, com atores fazendo as vozes dos personagens, a série Disquinho tinha como compositor oficial o carioca Carlos Alberto Ferreira Braga (1907-2006). Conhecido como Braguinha (também João de Barro), ele era o diretor artístico da Continental.
Ao longo de sua vida, Braguinha foi eclético no seu farto catálogo de composições, que entraram no imaginário popular brasileiro – como Chiquita Bacana, Balancê, Cantores do Rádio, Touradas em Madri (cantada por cerca de 200 mil pessoas no Maracanã durante a vitória do Brasil por 6 a 1 contra a Espanha, na Copa do Mundo de 1950), Fim de Semana em Paquetá, entre tantas outras. É dele a letra de Carinhoso (“Meu coração, não sei por quê / Bate feliz quando te vê”), eternizada na interpretação de Pixinguinha. As canções de Braguinha foram cantadas por nomes como Carmen Miranda, Maria Bethânia, Wilson Simonal, Altemar Dutra e Emílio Santiago.
Além das músicas, o compositor participou da dublagem dos primeiros longas de animação da Disney lançados no Brasil: Branca de Neve e os Sete Anões (1937), Pinóquio (1940), Dumbo (1941) e Bambi (1942). Além da voz, suas letras adaptadas embalaram a infância de muita gente – por exemplo é responsável pela versão brasileira de Heigh-Ho (“Eu vou, eu vou/ Pra casa, agora eu vou”), da trilha sonora da Branca de Neve.
Foi a partir dessa experiência com a Disney que começou a amadurecer em Braguinha a ideia de trabalhar com o público infantil. Em 2001, em entrevista ao jornal O Estado de São Paulo, ele contou que após Branca de Neve e os Sete Anões veio a epifania: "Acho que vai ficar bonito fazer isso também em um disquinho". A partir daí, passou a comandar as gravações de algumas histórias infantis ainda no formato do disco de 78 rotações.
Em 1960, a colorida Coleção Disquinho estrearia justamente com a história da princesa e seus sete amigos, na forma de compacto simples. No projeto, Braguinha adaptaria fábulas de La Fontaine, Esopo, Monteiro Lobato e dos Irmãos Grimm, além de escrever histórias próprias (como Briga no Galinheiro e O Macaquinho e o Totó). A coleção consagrou clássicos como Chapeuzinho Vermelho, O Pequeno Polegar, Estória da Baratinha, A Cigarra e a Formiga, A Formiguinha e a Neve e O Gato de Botas.
“Eu nunca soube fazer música, então cantava os versinhos e a melodia para Radamés. Éramos muito amigos”, contou Braguinha na entrevista citada, sobre o processo de criação em parceria com o maestro gaúcho.
Lançada entre os anos 1960 e 80 e marcada também pelas ilustrações de suas capas, a coleção vendeu mais de cinco milhões de cópias. Em 2001, a série foi reeditada em CD. Quem coordenou o projeto foi o produtor musical Carlos Alberto Sion, para quem essas histórias nunca ficarão datadas.
— A coleção trata de temas eternos do universo infantil. Tudo isso vai criando símbolos e conteúdo para universo da fantasia, da imaginação, além de propiciar uma expansão do vocabulário — destaca em entrevista a GaúchaZH. — São gravações atemporais. Você toca e magnetiza as crianças.
Onde ouvir a Coleção Disquinho
- Spotify
- Deezer
- Apple Music
- YouTube (em 2018, a Warner lançou cinco versões animadas de histórias da Coleção Disquinho)