O músico e escritor Chico Buarque agradeceu, em vídeo, o recebimento do Prêmio Camões, principal troféu literário da língua portuguesa. A cerimônia de entrega seria realizada no sábado (25), mas a pandemia do coronavírus impediu que o evento acontecesse. Foi no mesmo dia, em 1974, que aconteceu Revolução dos Cravos em Portugal, que pôs fim ao Estado Novo português.
— Nesta tarde, deixarei na janela cravos vermelhos e cantarei em alto e bom som Grândola, Vila Morena, de Zeca Afonso — disse Chico.
A canção se tornou símbolo da derrubada da ditadura salazarista. No Brasil, a música fez sucesso na voz de Nara Leão.
— Se possível, peço ainda a vocês que guardem um pensamento aos seus irmãos brasileiros, que estão, mais do que nunca, necessitados de um cheirinho de alecrim — pediu aos portugueses.
O diploma do prêmio é assinado pelos presidentes do Brasil e de Portugal, mas Jair Bolsonaro deu a entender que não vai firmar o documento concedido ao compositor.
— Até 31 de dezembro de 2026, eu assino — afirmou Bolsonaro, cujo mandato termina em dezembro de 2022.
Depois do comentário, Chico usou usou as redes sociais para ironizar a fala do presidente. "A não assinatura do Bolsonaro no diploma é para mim um segundo Prêmio Camões", escreveu na ocasião.
O Camões, criado em 1988, elege todo ano um autor de qualquer país falante do português. A escolha é um reconhecimento da obra completa do autor, em vez de apenas a uma obra específica. O último brasileiro eleito havia sido Raduan Nassar, autor de Lavoura Arcaica, em 2016. No ano passado, o Camões foi para Germano de Almeida, escritor de Cabo Verde.