Mudou e vai mudar ainda mais o processo de escolha do patrono da Feira do Livro de Porto Alegre. Não haverá, este ano, a lista prévia de cinco patronáveis (em alguns anos, 10), etapa recorrente da eleição do homenageado desde o ano 2000. A diretoria da Câmara Rio-Grandense do Livro (CRL), entidade promotora do evento, vai tomar para si a escolha do patrono deste ano, que será anunciado em uma solenidade a princípio marcada para o próximo dia 16.
A 65ª edição da Feira do Livro será realizada neste ano entre 1º e 17 de novembro. Embora a Câmara justifique que a iniciativa se deve a um desinteresse progressivo pelo processo de escolha entre seus associados, a alteração, realizada em meio a um processo já em andamento, recebeu críticas de integrantes do conselho dos patronos.
Desde 2000, a tradição manda que a eleição seja feita em duas etapas. Na primeira, votam associados da Câmara e escolhe-se um número de finalistas. Desses, uma segunda votação, em um colegiado maior, reúne os associados, diretores de cursos de Letras, nomes ligados à universidade e o conselho dos patronos, com homenageados de edições anteriores. Neste ano, a Feira chegou a realizar a primeira etapa da votação, até setembro, mas, de acordo com o presidente da Câmara do Livro, Isatir Bottin Filho, a eleição teve pouca repercussão e a segunda parte não será mais realizada.
— Em 2019, tivemos uma participação muito pequena na votação. Dos 140 associados, apenas 30 responderam com seus votos, o que prejudica a representatividade da escolha na sua totalidade. A direção da Feira decidiu então, com base nos nomes que nos foram enviados, realizar a escolha direta, como é sua prerrogativa. E vamos pensar mudanças daqui para a frente — comenta Bottin Filho.
Repercussão
Em 2019, dos 140 associados, apenas 30 votaram, o que prejudica a representatividade da escolha na sua totalidade.
ISATIR BOTTIN FILHO
Presidente da Câmara Rio-grandense do Livro
De acordo com o presidente da Câmara do Livro, a ideia é reformular o processo de escolha para os anos seguintes. De imediato, aumentar o colegiado de participantes além dos associados da Feira, renovando os eleitores. Há também a ideia de fazer o processo se alternar, um ano com uma escolha direta feita pela Câmara do Livro e outro com uma eleição, talvez com ampliação da participação popular via aplicativos ou serviços digitais.
— Tivemos recentemente um exemplo de um escritor significativo, Aldyr Garcia Schlee, que morreu sem nunca ter sido patrono — afirma Bottin Filho. — Acho que é um motivo para repensarmos o modelo e equilibrar entre aumentar a participação do público, mas sem esquecer de homenagear pessoas importantes.
Sou sempre pela via democrática e plural. Acho um retrocesso democrático.
LUIZ ANTONIO DE ASSIS BRASIL
Escritor, patrono da edição de 1997
A CRL afirma que o conselho de patronos será procurado para definir as alterações, mas patronos de edições anteriores ouvidos por GaúchaZH foram pegos de surpresa pela informação. A recepção à novidade também foi mista.
— Sempre achei que a escolha do patrono deveria ser feita por um grupo seleto da cultura levando em conta duas diretivas: a obra e a trajetória — diz Maria Carpi, patrona da edição do ano passado, que não vê com maus olhos a ideia da Feira.
Já Luis Antonio de Assis Brasil, patrono da edição de 1997, considera a iniciativa como um recuo:
— Sou sempre pela via democrática e plural. Acho um retrocesso democrático. Penso que é curioso suspender um processo em meio a sua realização.
Valesca de Assis, patrona de 2017, também estranhou a mudança.
— É justo mudar o processo, mas mudar meio de atropelo no meio do processo fica problemático — define Valesca.
O PATRONO
Desde 1965, a Feira homenageia um escritor de relevo como patrono.
Até 1984, os patronos eram personalidades mortas. O primeiro homenageado vivo foi Maurício Rosenblatt.
Desde 2000, com Barbosa Lessa, o patrono é escolhido por eleição em duas etapas.