Começo do século 18.
O Rio de Janeiro, ainda não elevado a capital do território colonial, tem 10 mil habitantes e uma economia baseada em exportação, mas é o entreposto pelo qual circula a riqueza retirada dos confins do Brasil. Quando essa informação chega aos ouvidos do corsário francês Jean-François Duclerc, ele organiza uma expedição ao Brasil para se apropriar do ouro dos inimigos portugueses. Comandando uma poderosa frota de seis navios com mais de mil homens, ele empreende uma invasão tomando como posto avançado a Ilha Grande, o que coloca os piratas franceses em rota de colisão com o mais improvável grupo de resistentes: três crianças nascidas brasileiras.
São esses os traços básicos de Piratas à Vista, obra que casa aventura infantojuvenil e romance histórico escrita pelo autor gaúcho Samir Machado de Machado. Conduzido como um romance clássico de aventura, o livro reconstrói em tom de ficção um episódio real — a invasão de Duclerc realmente aconteceu, em agosto de 1710 — pelo ponto de vista de três adolescentes alunos do Colégio dos Jesuítas, os irmãos André e Leonor e seu amigo Jorge. Enquanto o casal de irmãos é filho de portugueses imigrados, Jorge é filho de uma mulher negra já na terceira geração de libertos com um dono de engenho. Os jovens são envolvidos no quadro maior da invasão quando André, Leonor e seus pais vão visitar os pais de Jorge, na Ilha Grande, justamente a primeira localidade tomada pelos invasores. Como são as únicas a falar francês, Leonor e Diva, mãe de Jorge, são capturadas pelos invasores, que querem informações sobre a topografia do Rio, especialmente a localização da Casa da Moeda. Cabe a André, Jorge e ao pai deste tentar um resgate.
Fruto de uma pesquisa claramente intensa, Piratas à Vista abraça seu caráter de aventura juvenil com gosto. A prosa segura e precisa convive com personagens que bebem nos clichês dos romances clássicos — um vilão entre o ridículo e o perigoso, outro com um olho de ouro, um ou outro diálogo de afetação artificial usado de modo humorístico. Um livro que prova que não é preciso mergulhar em águas estrangeiras para se aventurar com piratas.
- Piratas à Vista
- De Samir Machado de Machado
- Ilustrações de Rafael Coutinho.
- FTD, 192 páginas, R$ 50
Anne Frank no olhar das crianças
Os horrores do nazismo e do Holocausto ganharam dimensão ainda maior graças ao relato de uma menina judia, vítima de uma cruel perseguição étnica, religiosa e ideológica que não poupou sequer as crianças. O Diário de Anne Frank, escrito entre 1942 e 1944 enquanto a jovem se escondia com a família em um refúgio na Holanda, é um marco na literatura infantojuvenil e vez ou outra surge um adulto que o lê pela primeira vez.
Um complemento às páginas do famoso diário pode ser encontrado em Tudo Sobre Anne, lançado pelo selo infantil Companhia das Letrinhas. Criado pelo museu Casa de Anne Frank, situado em Amsterdã, o livro traz fotos de Anne e de sua família antes de viverem escondidos e, posteriormente, mandados aos campos de concentração. As páginas são entrecortadas por informações didáticas sobre a Segunda Guerra e, detalhe que diferencia a publicação, questionamentos sobre a condição de Anne e sobre o nazismo feitas pelas crianças que visitaram o museu, além de boas ilustrações sobre o refúgio em que Ana viveu.
“Para onde fugir?”, “Quem denunciou Anne Frank?”, “Ela estava com medo no esconderijo?”, “O que é um campo de concentração?”, “O que é um holocausto?”. São perguntas que o livro endereça ao leitor, talvez já acostumado com a vilania do nazismo retratado em filmes. E o leva a redimensionar a tragédia, pelo olhar inocente de uma criança.
- Tudo Sobre Anne
- De Menno Metselaar e Piet van Ledden, com ilustrações de Huck Scarry
- Tradução de Yaemi Natumi e Karolien van Eck.
- Companhia das Letrinhas, 40 páginas, R$ 46.
Prateleira
O Baú dos contos de fada,
de Maristela Scheuer Deves
Quinto livro da jornalista Maristela Scheuer Deves, e o quarto de sua produção dedicado a jovens leitores. Na trama, a menina Leninha decide que vai descobrir a fonte da qual seu avô retira as ideias para modificar as histórias que conta para distrair os netos, já que ele sempre acrescenta novos episódios às tramas conhecidas.
Lançamento e sessão de autógrafos no sábado (28), às 15h, na Livraria Bamboletras (Shopping Nova Olaria, Rua Gal. Lima e Silva, 776), em Porto Alegre.
- Editora Lorigraf, 80 páginas, R$ 35.
João de A a Z,
de João Carlos Martins
O pianista e maestro João Carlos Martins revê sua trajetória pessoal e profissional neste livro. Em linguagem simples, os capítulos seguem ordem alfabética, como verbetes – Bach, Disciplina e Talento são alguns deles.
Às vezes o texto quase descamba para um estilo próximo à literatura de autoajuda, com frases motivacionais, porém, a obra tem o mérito de falar de arte e de música de concerto de modo acessível as um público amplo.
- Sextante, 208 páginas, R$ 39,90 (físico) ou R$ 24,99 (e-book).
Fantina, de F. C. Duarte Badaró
Com o subtítulo Cenas da Escravidão, este romance sobre o cotidiano da sociedade escravista brasileira do século 19 foi publicado em 1881 pelo advogado e político mineiro Francisco Coelho Duarte Badaró (1860-1921). Na trama, um malandro boa-vida casa-se com uma viúva bem estabelecida e assume a posse de uma fazenda. Ao tornar-se “senhor” inicia um assédio implacável à jovem escravizada Fantina.
Esta edição tem um posfácio de autoria do historiador Sidney Chaloub. A edição é da Chão, criada este ano para pôr em circulação textos antigos pouco conhecidos.
- Chão, 192 páginas, R$ 49.
Chernobyl o1:23:40,
de Andrew Leatherbarrow
O fotógrafo e designer escocês Andrew Leatherbarrow se dedica desde o início da década a pesquisar o maior desastre nuclear da história, em Chernobyl, ocorrido à 1h23min de 26 de abril de 1986. Do horário vem o subtítulo deste livro que não apenas narra o acidente mas a história da energia nuclear e acidentes anteriores.
É uma grande reportagem completa e abrangente sobre o desastre. O autor serviu como consultor do produtor Craig Mazin na recente série da HBO Chernobyl.
- Tradução Denise Bottmann, L&PM, 264 páginas, R$ 49,90.