O escritor Paulo Coelho tem se mostrado um membro ativo nas redes sociais com diversas críticas ao governo de Jair Bolsonaro. Durante entrevista à BBC News Brasil, em sua casa em Genebra, ele afirmou não estar preocupado com uma possível perda de leitores ao falar sobre o presidente e disse ter um "compromisso histórico" de não ficar calado.
— Preocupar é uma palavra muito forte. A essa altura, eu tenho um compromisso histórico e o compromisso histórico é não ficar calado. Eu tenho que falar. Vou perder leitores? Vou. Tenho perdido? Devo estar perdendo? Não sei. Eu não fico contabilizando isso. No Brasil. Mas, fora do Brasil, eu não acredito. Acho que todo mundo está olhando o Brasil neste momento com muita suspeita — explicou.
Paulo Coelho também relembrou, com detalhes, dos momentos em que foi torturado por agentes da ditadura militar, em 1974, e considera o atual momento político do país como "um delírio". Em seus últimos livros — Hippie (2018) e O Aleph (2010) — o escritor explorou o passado, o presente e o futuro.
— Eu tenho 72 anos e nunca vi nada igual. Eu já vivi ditadura, democracia, muitas fases do Brasil, mas nunca vi o que está acontecendo agora. É um delírio (...). Fico muito triste com o que está acontecendo. Uma coisa é certa: não se morre de tédio com a política brasileira, porque todo dia tem-se uma coisa nova. Por outro lado, francamente, o que é isso? Que é isso? O que o presidente brasileiro está fazendo para colocar o Brasil em tanta saia justa?
Na entrevista, ele comentou sobre o momento em que rompeu com o Partido dos Trabalhadores (PT).
— Você pode amar o seu país e desprezar o seu governo. Eu flertei com o PT. Mais do que flertei. Eu fiz campanha, eu fui apoiar nas Olimpíadas, apoiei a Copa do Mundo. E aí eu comecei a ver que era uma coisa que não estava levando a lugar nenhum. Não digo que os resultados dos governos Lula não foram bons, mas da Dilma já não foi. Já é uma coisa meio falsa. Não sei. Aí eu disse: "Ah, não, estou fora do PT." — contou.
Paulo Coelho disse que o povo brasileiro ainda lhe dá orgulho e espera que as pessoas não sejam contagiadas pela polarização e radicalização das opiniões, principalmente relacionadas à política.
— Você vê nas biografias do Twitter. "Fulano de tal ferrenho anticomunista". De onde esse cara tirou que é anticomunista? O que ele acha? (...) Aí eu digo, que é isso, porque as pessoas falam isso? Ah, porque as pessoas precisam de uma bandeira para defender. O cara vai lá e tem a bandeira anticomunista. Podiam inventar uma coisa melhor, mais moderna. "Antipoluição". Mas o cara é anticomunista porque sofreu ali uma lavagem mental. Esse anticomunismo é muito recente, é da eleição do Bolsonaro para cá — afirmou Paulo Coelho.