No dia 28 de maio de 1974, o escritor Paulo Coelho teve seu apartamento invadido por agentes do regime militar e depois foi preso e torturado, segundo relatou em um texto publicado nesta sexta-feira (29) no jornal americano Washington Post.
O texto foi escrito como reação à orientação de Jair Bolsonaro para que quartéis celebrem o golpe de março de 1964. A ordem do presidente foi distribuída pelo Ministério da Defesa.
Em seu texto, Paulo conta que, após ter sido levado ao prédio do Dops (Departamento de Ordem Política e Social), onde foi interrogado, pegou um táxi. Estava a caminho da casa de seus pais quando seu trajeto foi interrompido por dois carros. Retirado a força do automóvel por um homem armado, foi obrigado a vestir um capuz e, levado para um lugar que não sabe identificar, passou por sessões de tortura.
"Dizem que não quero cooperar, jogam água no chão e colocam algo nos meus pés, e posso ver por debaixo do capuz que é uma máquina com eletrodos que são fixados nos meus genitais", descreve em um trecho.
O escritor conta que, após perder a noção de tempo, foi levado para uma sala pequena chamada "geladeira". Diz que ela era "toda pintada de negro, com um ar-condicionado fortíssimo" e que ficou ali no escuro. "Começo a enlouquecer, a ter visões de cavalos. Bato na porta, mas ninguém abre. Desmaio. Acordo e desmaio várias vezes, e em uma delas penso: melhor apanhar do que ficar aqui dentro."
O texto do autor de "O Alquimista" termina com um protesto contra a ordem de Bolsonaro. "E são essas décadas de chumbo que o presidente Jair Bolsonaro — depois de mencionar no Congresso um dos piores torturadores como seu ídolo — quer festejar nesse dia 31 de março."