Em entrevista a GaúchaZH, Luis Fernando Verissimo lembra que começou a trabalhar em Zero Hora, à época com sede na Rua Sete de Setembro, no centro de Porto Alegre, e seus primeiros passos no jornal se deram em funções diferentes na Redação até estrear como cronista, ofício que o consagraria nacionalmente, em 19 de abril de 1969, um sábado. Ocupava a vaga de Sérgio Jockyman (1930-2011) no espaço publicado na seção Informe Especial.
O tema da coluna inaugural calhou de ser sobre uma de suas paixões, o Internacional, que dias antes havia inaugurado o Estádio Beira-Rio e no dia seguinte receberia o rival Grêmio para um amistoso na casa nova. A crônica está reproduzida abaixo e os asteriscos incluídos no texto original simbolizam a contextualização de algumas das citações do autor.
Entrando em campo
"Pues, vamos nós. Luis com “esse” Fernando dos Verissimo de Portugal e Cruz Alta. Admirador do Internacional em geral e do Ivo Correia Pires* em particular, pró-Bráulio-time mas aberto ao diálogo. Credenciais, muito poucas. Sei que estou entrando em campo para substituir um astro mas vamos suar a camiseta, tentarei corresponder, futebol é assim mesmo e, no fim das contas, que diabo, são 11 contra 11. Um consolo você tem; a coluna não caiu na mão de um inimigo. Estou dando um gol para domingo, jantar pago no Floresta Negra.
O Sérgio preto* substituiu Bráulio, com vantagem, eu substituo o Sérgio branco com vontade e só espero que o futuro seja o meu jogo, como a defesa do Penharol em dia de bobeira. O Sérgio branco é senhor de “rushes” estilísticos, taquinhos verbais, parábolas por elevação e sentenças em curva. Eu me limitarei a um vaivém funcional e pessoal, trocando idéias laterais,com pouca profundidade e menos objetividade. E se algum dia eu começar a dar balõezinhos na beira da área será por pura falta de assunto. Uma coisa o Sérgio branco e eu teremos em comum: você, leitor, nosso atento Claudiomiro – branco ou preto, colorado ou não – para as tabelinhas de todos os dias.
O desafio ali de cima é sério, estou apostando, mas se você notou um tremor nas entrelinhas não o atribua à emoção do momento. Ele vem da constatação, que todo o colorado consciente traz há dias camuflada na sua confiança, de que existe uma assustadora diferença entre o Grêmio que acabou com o mito húngaro e os 11 orientales patetas que nos alegraram o domingo. Moral por moral, estamos empate. Se é verdade que o estádio e a festa são nossos, não é menos verdade que estragar a nossa festa vale quase um estádio novo para eles***. E de par com a constatação de que, em síntese, não vai ser mole não, vem outro temor oculto, que eu ouso trazer à tona para o nosso horror e ponderação. Chega mais perto e vê se não é de dar frio na pleura: nós vamos de peito aberto, num deslavado e suicida quatro dois quatro, contra um time cautelosamente defensivo, como todos do Sérgio deles. Certo, certo, faz-se a sanfona, Pontes**** vale por dois, todos sobem e todos descem, etc. etc. Mas eu ainda tremo e garanto que o Sérgio branco também está tremendo. Nossa esperança é que o Sérgio preto nos devolva a calma, se possível no primeiro minuto!"
* Dirigente do Inter
** Sérgio Galocha, jogador colorado
*** O Gre-Nal amistoso no Beira-Rio, domingo, ficou no 0 a 0
**** Zagueiro do Inter