Uma das primeiras grandes iniciativas editoriais voltada para o público LGBT+ foi a Hoo, fundada em 2015 em São Paulo. A visibilidade conseguida pela casa levou outras editoras a dedicar selos específicos ao tema (como o GLS, do grupo Summus) ou a simplesmente colocar no horizonte de seus catálogos livros para os vários tipos de públicos enquadrados sob a sigla LGBT+, das grandes casas comerciais até publicadoras mais artesanais.
Com sete títulos publicados relacionados à representatividade, a Rico Editora viu seus números saltarem digitalmente durante a Bienal do Rio. Após a tentativa de censura do prefeito Marcelo Crivella (PRB), a publicadora optou por liberar as obras de forma gratuita na Amazon.
A ação teve resultado imediato: mais de 65 mil downloads em menos de uma semana de livros como o drama adolescente Quem Rabiscou Aqui?, de Cínthia Zagatto ou a antologia #Orgulho de Ser.
– Muita gente que nunca tinha ouvido falar da Rico tomou conhecimento do nosso trabalho graças à ação. O número de downloads foi maior do que estávamos esperando e observamos crescimento nas nossas redes sociais, bem como nas vendas dos livros impressos – explica Thati Machado, editora do selo Se Liga da Rico Editora, voltado à diversidade.
Para os próximos meses, a editora se prepara para lançar mais títulos, como Todas as Formas de Amar, de Dane Diaz, protagonizado por uma mulher bissexual, e Transderella, de Lino, uma releitura da história da Cinderela sendo trans. Essa preocupação partiu da própria representante da publicadora, que sentia falta de estar presente na literatura.
– Como mulher gorda e LGBT+, sempre senti falta de me ver representada nas histórias que lia e nos filmes a que assistia. Isso fazia eu me sentir errada, como se precisasse mudar quem eu era para poder protagonizar histórias incríveis. Os livros que edito e publico no Se Liga passam a mensagem contrária – aponta Thati.
A censura na Bienal serviu de alerta para as editoras, principalmente as maiores, já que os catálogos LGBT+ ainda estão sendo ampliados. Em 2016, a Rocco lançou títulos como Lembra Aquela Vez, do americano Adam Silvera, finalista na categoria romance juvenil do Prêmio Lambda, mais tradicional do segmento de literatura LGBT+. A editora também pôs em circulação o drama de um adolescente que quer ser uma menina em A Arte de Ser Normal, de Lisa Williamson.
A Rocco comentou o caso da Bienal. “A editora acredita que foi um ato isolado do prefeito do Rio, mas que ficará atenta a qualquer movimento que vise a proibição de qualquer livro, independente de seu conteúdo, que não seja analisado por quem de direito”, informou a editora, em nota.
Incentivo
Nas outras companhias literárias, a situação envolvendo a HQ com o beijo gay de dois Vingadores jovens foi um tiro que saiu pela culatra. Segundo o jornal Folha de S. Paulo, a editora Planeta viu as vendas aumentarem 73% em relação à última Bienal, e a maior procura foi por obras com tema LGBT+.
– Temos umas duas dezenas de livros claramente relacionados a temáticas LGBT+, mas, dependendo dos critérios empregados, esse número poderia subir para 50 ou até 100 títulos. Acreditamos que a diversidade é essencial para o catálogo de qualquer editora de qualidade. Ficamos preocupados com este momento e esperamos que atos como estes (o da censura) não voltem a acontecer – explica Cassiano Elek Machado, diretor editorial da Editora Planeta.
Tudo isso serve como incentivo para as próximas ações.
– Continuaremos fazendo o que sempre fizemos: lutar por uma literatura mais inclusiva e diversa – finaliza Thati, da Rico Editora.