Três das principais editoras do Brasil reuniram-se para tentar levar uma quantidade maior de livros a um número maior de ouvintes. Sim, ouvintes, o que você leu não foi erro de digitação, e sim o fato de que a recém-fundada plataforma Auti Books, que reúne as casas Intrínseca, Record e Sextante, pretende desbravar um terreno ainda pouco explorado no mercado livreiro nacional: o dos audiobooks, obras com o conteúdo gravado em voz alta em um arquivo para ser baixado e ouvido em mídia digital.
A Auti (palavra grega que significa "ouvido") é o resultado de uma parceria entre as três editoras e a empresa Bronze Ventures. O serviço entrou no ar em junho no endereço autibooks.com, e o aplicativo da plataforma pode ser baixado tanto na Apple Store quanto no Google Play.
A plataforma também inclui livros de outras editoras que disponibilizaram suas obras já em formato áudio, como a Companhia das Letras. A plataforma estreou com uma centena de títulos em vários campos, muitos deles narrados pelos próprios autores, da consultora de finanças pessoais Nathalia Arcuri e seu Me Poupe! à teórica Djamila Ribeiro lendo seu Quem Tem Medo do Feminismo Negro?
Os livros são comercializados um a um, como em qualquer livraria digital, em um arquivo baixado diretamente no dispositivo do usuário. Não é preciso fazer assinatura. Os preços se assemelham aos dos e-books tradicionais.
– Optamos pelo modelo que nos pareceu mais sustentável para editoras e autores. Os números dos serviços de streaming, em especial música e filme, têm escala mais ampla. A Bela e a Fera faturou US$ 1,2 bilhão nos cinemas. Uma música da Anita tem 320 milhões de audições. Esses números no mercado de livros são diferentes. Um livro médio vende cinco mil exemplares. E paga-se pouco no streaming, então você não consegue remunerar a editora e o autor – explica Cláudio Gandelman, diretor executivo da plataforma
Mais smartphones, maior potencial
Um dos principais objetivos da nova plataforma é aproveitar um clima favorável para tornar os audiobooks no Brasil a realidade que já são no Exterior. Nos Estados Unidos, maior mercado internacional do setor, as vendas de audiobooks quase triplicaram em menos de uma década: de US$ 900 milhões em 2009 para US$ 2,5 bilhões em 2017, segundo a Association of American Publisher.
No Brasil, o que agita as expectativas dos criadores da Auti é o crescimento da tecnologia mobile. De acordo com uma pesquisa realizada pela Fundação Getúlio Vargas e divulgada em abril de 2018, pela primeira vez no ano passado o Brasil superou a marca de um smartphone por habitante.
– A possibilidade do telefone muda o jogo. O mercado do livro atinge 8% da população, um número relativo pequeno. O áudiobook muda essa perspectiva, estamos falando aí de um público classe A, B e C de 60 milhões de pessoas – diz Gandelman.
Algumas casas já vinham trabalhando com o formato audiolivro nos últimos anos: a Global e a Rocco disponibilizaram obras em plataformas como a Ubook (criada em 2014, que apresenta livros para streaming) ou o Google Play. A Companhia das Letras tem produzido audiolivros e oferece essa parte de seu catálogo tanto no Google Play quanto na Auti. O que torna a Auti diferente é o fato de três grandes editoras terem participação ativa em sua criação, bem como a escala do projeto.
– Na Sextante, pensamos em criar um aplicativo próprio, mas uma andorinha só não faz verão. Ficou claro que fazia mais sentido juntar esforços com outras editoras para oferecer um serviço maior da forma que a gente gostaria que fosse oferecido – comenta Tomás da Veiga Pereira, publisher da Sextante e um dos idealizadores da iniciativa.