Na segunda palestra da edição 2019 do ciclo Fronteiras do Pensamento, o escritor norte-americano Paul Auster lerá seu texto e responderá perguntas da plateia reunida no Salão de Atos da UFRGS por meio de uma videoconferência, a partir das 19h45min desta segunda-feira (17). Auster estava agendado para fazer sua intervenção em pessoa, mas precisou cancelar a viagem para Porto Alegre – o autor vem enfrentando uma emergência familiar que o levou a suspender qualquer deslocamento para fora dos Estados Unidos. A videoconferência surgiu como solução para conciliar o problema e garantir que o público pudesse ainda assim assistir à conferência.
“Não estarei aí pessoalmente, mas, através da magia das tecnologias modernas, minha imagem estará aí, falando ao vivo para dois públicos distintos em duas noites distintas e em duas partes distintas do Brasil (Auster também fará palestra para o público de São Paulo na quarta-feira). Nunca lidei com esse tipo de magia e sinto que será uma aventura extraordinária”, escreveu o autor em uma nota enviada à organização do Fronteiras e divulgada no último dia 29, quando a videoconferência foi anunciada.
Aos 72 anos, Auster é um dos autores mais prolíficos da contemporaneidade. Após um início de carreira como poeta e tradutor (principalmente da grande poesia surrealista francesa, da qual sempre se declarou tributário), ele chamou atenção da crítica na segunda metade dos anos 1980, com a publicação das três novelas depois reunidas sob o título Trilogia de Nova York, obras que misturavam vigor estilístico e um olhar intencional e deliberado para a literatura também como um jogo entre autor e leitor (Cidade de Vidro, o primeiro dos livros da Trilogia, mistura numa história de delírio e equívocos, clichês da literatura de crime, mitos cristãos do paraíso, identidades trocadas e até uma ponta dele próprio, Auster, como personagem do romance).
Uma das coisas que chamam a atenção no trabalho de Auster é a variedade de sua produção. Ao longo das últimas quatro décadas, publicou mais de três dezenas de livros, entre romances (alguns deles aclamados, como No País das Últimas Coisas, de 1987, Leviatã, de 1992, e O Livro das Ilusões, de 2002), poesia e livros de ensaios memorialísticos como A Invenção da Solidão (1982), relato sobre como a relação com seu pai moldou diversos de seus pontos de vista, e Diário de Inverno (2012), reflexões sobre sua vida e sua formação como escritor.
– Chamo esses livros de “ensaios autobiográficos”. Porque não sei o que são. Não são memórias, não são autobiografias. São livros sobre estar vivo, que usam minha própria vida como pretexto para explorar coisas diferentes – declarou, em entrevista concedida a Zero Hora no fim de abril.
Sua obra mais recente é o ambicioso calhamaço 4 3 2 1, lançado em 2017 (e em 2018 no Brasil, pela Companhia das Letras) e finalista do Man Booker Prize, no qual quatro versões do mesmo personagem vivem vidas diferentes de acordo com circunstâncias pontuais de sua existência.
Um autor de posições políticas contundentes
Auster também tem sido um dos mais acirrados críticos de Donald Trump.
– Ele provavelmente é a pessoa mais maligna e narcisista que já vi na vida pública deste país – disse Auster a Zero Hora
Em 2012, ainda durante a administração Obama, Auster provocou polêmica ao declarar, em entrevista à revista Salon, que a extrema-direita do Partido Republicano tinha muito em comum com os jihadistas que os EUA combatiam no Oriente Médio. Apesar das críticas pela agressividade da declaração, ele não retira o que disse.
– Chamei-os de jihadistas, em primeiro lugar, porque estavam matando o governo, mas também porque estavam matando pessoas. Eles recusam até a ideia de saúde pública, o que é literalmente matar as pessoas, e não assumem responsabilidade por isso. São assassinos silenciosos de inocentes que precisam de ajuda, mas não a recebem porque esses políticos são tão gananciosos e mesquinhos e cruéis que não se importam com essas mortes – declarou na entrevista a ZH.
Próximos convidados
- 1º de julho – Roger Scruton
- 19 de agosto – Denis Mukwege
- 2 de setembro – Janna Levin
- 23 de setembro – Werner Herzog
- 21 de outubro – Contardo Calligaris
- 11 de novembro – Luc Ferry
Fronteiras do Pensamento 2019
Ciclo de conferências entre 13 de maio e 11 de novembro, sempre às segundas-feiras, às 19h45min.
Salão de Atos da UFRGS (Paulo Gama,110), exceto no dia 21/10, que será no Salão de Atos da PUCRS (Av. Ipiranga, 6.681, prédio 4).
Ingressos: os passaportes estão esgotados. É possível se inscrever em lista de espera em bit.ly/listaFronteiras