Porto Alegre não é apenas cenário de uma das maiores feiras de livros do país, mas também ambienta muitas das histórias que circulam impressas pelo evento. Nesta quarta-feira, às 15h30min, no Auditório Barbosa Lessa do CCCEEV, a cidade também se tornará tema debate entre dois destaques da literatura nova literatura gaúcha, Carol Bensimon e Cristiano Baldi.
Com mediação do poeta Diego Grando, o bate-papo Literatura em Porto Alegre, Porto Alegre na literatura, promovido pela Feira, pretende discutir a representação da Capital na ficção. Carol Bensimon aponta que autores de diferentes gerações já fizeram da cidade um tema marcante, como Dyonélio Machado, João Gilberto Noll e Daniel Galera, mas observa que não há tantos outros representantes na lista:
– Porto Alegre não é uma cidade muito representada. De certa forma, isso é uma vantagem para um escritor. Quando escrevi sobre Paris no meu romance Todos Nós Adorávamos Cowboys, estava diante de um cenário já desgastado, muito explorado pela literatura.
Carol ambientou algumas das histórias de seu primeiro livro, Pó de Parede, e também seu romance Sinuca Embaixo d'Água na capital gaúcha. Além disso, abordava em colunas para Zero Hora temas como mobilidade e urbanismo em crônicas publicadas na imprensa e reunidas no livro Uma Estranha na Cidade. Ela afirma que esses temas, em alta há três ou quatro anos, perderam o protagonismo no debate público.
– Parecia que havia algo de esperança no ar, ligado às mobilizações de 2013, à cultura da bicicleta, talvez um pouco ingênuo, de que pequenas coisas como ocupar praças ou fazer um encontro à noite em um parque pudesse realizar grandes mudanças. Depois, a coisa desandou.
Cristiano Baldi avalia que a cidade não precisa aparecer diretamente descrita no texto para que esteja refletida em um livro:
_ É preciso pensar na cidade para além do cenário. Existem exigências e outros aspectos das metrópoles que impactam os personagens de uma obra, mesmo que nenhuma paisagem seja descrita. É inconcebível que um romance que se passa em um espaço urbano não exponha questões como essa.
Autor de Correr com Rinocerontes, que também aborda a Capital, Baldi conta que deve citar no bate-papo trabalhos que abordam as grandes cidades, como Grana, de Martin Amis, sobre um inglês em viagem a Nova York, e o conto A Rua dos Crocodilos, de Bruno Schulz.
– Há detalhes da vida em uma metrópole que a gente só consegue repetir na poesia e na ficção. São sutilezas que se desfazem em um discurso mais ideológico.