Em um trecho de seu novo livro, Carol Bensimon fala sobre sua relação com uma de suas personagens principais: “Nós quebramos os pratos às vezes, mas então voltamos a nos entender”. A frase está no texto Porto Alegre, e se refere à própria capital gaúcha. É assim, com envolvimento e sem deixar a emoção de lado, que a autora analisa temas como planejamento urbano, sustentabilidade e comportamento no conjunto de textos que formam Uma Estranha na Cidade.
Leia crônicas de Carol Bensimon publicadas em ZH:
Uma nuvem do tamanho do Brasil
Um título bem mais tarde
Liberdade entre muros
Carol faz sessão de autógrafos do novo trabalho nesta terça-feira, às 19h30min, na Palavraria (Vasco da Gama, 165). Este é o primeiro volume de crônicas da escritora, que conquistou os primeiros leitores por meio de sua ficção, primeiro com Pó de Parede (2008), livro que reunia três novelas, e depois com os romances Sinuca embaixo d’Água (2009) e Todos Nós Adorávamos Caubóis (2013).
Uma Estranha na Cidade reúne 35 textos, todos publicados originalmente em ZH ou em blogs, sendo a maior parte deles escrita entre 2013 e 2015. Além disso, há um ensaio inédito sobre a busca pelo genuíno em uma viagem da autora à cidade-fantasma de Bodie, na Califórnia.
– Muita gente que lê minhas crônicas nem pensa em ir atrás dos meus outros livros, pois não tem o hábito de ler ficção. Então pensei: por que não reunir as crônicas em um volume? É uma maneira de dialogar com outro público – conta Bensimon.
A análise de questões geracionais, como a adesão cada vez mais ampla ao uso de tatuagens e o hábito cada vez mais comum de vestir bebês com macacões de bandas de rock, permeiam o livro. De maneira descontraída e bem-humorada, Carol se apoia em artigos e livros de autores como os americanos Robert Goldman e Chris Weller para tentar compreender uma geração que “não está fugindo de um senso de estabilidade e permanência, mas está buscando isso desesperadamente”. São textos rápidos, mas com insights originais, captados a partir do cotidiano.
A busca por uma cidade mais humana e sustentável também é uma das preocupações centrais das crônicas. Apesar de ter nascido e crescido na Capital, Carol explica por que muitas vezes se sente uma estranha em Porto Alegre, como fica claro no título do novo livro:
– Não há como não se sentir um pouco estrangeira quando se defende o direito dos pedestres (em uma cultura em que é o carro quem manda), quando se critica viadutos (em uma cidade que adora construí-los) ou quando se valoriza arborização, patrimônio histórico, ruas caminháveis (coisas que, aqui no Brasil, são interpretadas como “chatice”) – afirma a escritora, por e-mail.
Além do livro que autografa nesta terça-feira, Carol tem mais um trabalho programado para sair em breve. Até o segundo semestre, ela deve lançar Avenida Independência, novela que trata da história de dois irmãos fãs de Oasis que têm o pai assassinado. Tudo se passa em uma noite de 1997. A obra faz parte de uma série de ficções baseadas em bandas de rock criada pela editora Belas Letras. Além de Carol, participam da coleção Carlos Maltz, que escreve sobre Pink Floyd; Natalia Polesso, sobre New Order; e Bruno Mattos, inspirado em Velvet Underground.
Uma estranha na Cidade
De Carol Bensimon
Crônicas, Dublinense, 144 páginas, R$ 36,90.
Sessão de autógrafos nesta terça-feira, às 19h30min, na Palavraria (Vasco da Gama, 165).
Cotação: 3 de 5 estrelas