A primeira conferência da 16ª Jornada Nacional de Literatura de Passo Fundo discutiu – e reafirmou – a importância de manter a liberdade nas artes e na literatura. Mais de duas mil pessoas lotaram o Espaço Suassuna nesta terça-feira (3) para ver os autores Zeca Camargo, Pedro Gabriel, Rafael Coutinho e Roger Mello em conversa mediada pelos escritores Augusto Massi, Alice Ruiz e Felipe Pena.
Augusto Massi começou o encontro com a leitura de uma carta que o Cpers-Sindicato enviou a ele, justificando o protesto realizado durante a abertura da Jornada, na última segunda-feira (2), quando estenderam diante do palco a faixa de "Sartori, nossa ausência nesse evento é culpa tua". A leitura do texto, que termina com "Fora Sartori! Fora Temer!", foi encerrada com longos aplausos da plateia.
– Fiquei muito tocado pela carta, pois minha mãe é professora e sei como esse trabalho é fundamental na formação humana – afirmou Pedro Gabriel, antes de iniciar sua fala.
Roger Mello concordou:
– Que absurdo a profissão mais importante do mundo, de professor, ter que passar por isso.
As dificuldades de criar arte atualmente, por conta da onda conservadora que fez, por exemplo, uma exposição ser cancelada em Porto Alegre, também foi tema de debate. Rafael Coutinho afirmou que há uma tentativa de destruir "vias que já estavam pavimentadas":
– Como cidadãos, precisamos ficar muito atentos a esse jogo de manipulação que está em curso, para que não mine a nossa capacidade de dialogar uns com os outros. Sou otimista. Esse é um motivo para mais uma luta. É preciso entender que não há nada garantido, que é preciso voltar a sair para as ruas e propor diálogos e debates. É lindo ver tanta gente discutindo arte, literatura e política nesta noite.
Zeca Camargo também defendeu a liberdade das artes:
– Dizem que está cada vez mais difícil fazer arte. Que nada. Está cada vez mais fácil! Quando você é provocado, aí sim que é um artista. Em tempos mornos, a arte também é morna. Quando falam que não se pode fazer alguma coisa, aí mesmo é que vou fazer.
Rafael Coutinho, filho do cartunista Laerte, afirmou que a trajetória marginal de seu pai pelos quadrinhos é uma inspiração:
– Sou muito grato por ter um amigo e colega, além de pai. Tenho muito orgulho da coragem que ele teve de se assumir mulher nos últimos anos e enfrentar esse processo de cabeça erguida.