Diante da dúvida de como resolver um problema, Marechal Floriano Peixoto (1839 – 1895) não hesitava em responder: “À bala”. Não é à toa que ficou conhecido como o Marechal de Ferro. O método do militar e político lidar com as dificuldade pode soar tosco, mas conseguiu consagrá-lo na história. Basta lembrar outro epíteto do alagoano: Consolidador da República.
No recém-lançado romance O marechal de costas, o pernambucano José Luiz Passos se debruça sobre a biografia de Floriano para desvendar como um menino do interior de Alagoas, de uma família sem muitos recursos, transformou-se em uma das mais importantes figuras do passado brasileiro. Autor de narrativas longas como O sonâmbulo amador, vencedor do prêmio Portugal Telecom de 2013, e professor de literatura na Universidade da Califórnia, Passos captura a atenção do leitor desenvolvendo uma história em dois planos. Além da trajetória do marechal, um núcleo narrativo se desenvolve no Rio de Janeiro contemporâneo, até a recente votação do impeachment de Dilma Rousseff.
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O elo entre os dois tempos históricos é incorporado no livro por uma cozinheira, personagem ficcional que trabalha para uma abastada família quando as manifestações de 2013 começam a ganhar as ruas. Com suposto parentesco entre ela e Floriano, o marechal torna-se assunto na casa, habitada por um advogado e seu filho, ambos interessados em política.
Mas uma terceira história, embora com passagens mais curtas, também merece atenção na narrativa: a vida de Napoleão Bonaparte. Um dos grandes méritos do livro é demonstrar a influência do imperador francês sobre a vida do Marechal de Ferro. Floriano se inspira em Bonaparte em momentos decisivos de sua vida, como ao estudar o inimigo antes de atacá-lo na Guerra do Paraguai ou no modo de conter episódios que ameaçavam o perfil centralizador de seu governo, como a Revolta da Armada.
Ao final, fica a imagem de um homem determinado, sem muitas certezas, mas dedicado a um plano grandioso. Ao mesmo tempo, as passagens do livro sobre o presente levam à conclusão de que a tentativa de unificar a república com mão de ferro não teve tanto sucesso. A instabilidade política permanece viva até hoje. Resolver os problemas à bala talvez não fosse – e ainda não seja – a melhor saída.