Uma das mais fascinantes histórias que enriquecem o folclore de Porto Alegre é da imigrante alemã Maria Francelina Trenes. O nome, assim, pode não ser facilmente reconhecido, mas a forma como ela ficou conhecida após a sua morte, em 1899, ainda permeia o imaginário da população da Capital: Maria Degolada.
Este causo — e muitos outros — serão apresentados por Zé Adão Barbosa para uma plateia que, assim como ele, encanta-se ao revisitar o passado. O ator e diretor estreia nesta quarta-feira (27) o espetáculo Histórias de um Porto Alegre na programação do 31° Porto Alegre em Cena. A apresentação será às 19h no Teatro do Instituto Goethe (veja detalhes sobre ingressos ao final do texto).
Quem estava sintonizado nas ondas da Rádio Gaúcha nos anos 2000 vai notar similaridades entre a montagem e um saudoso programa que foi transmitido durante seis anos: Era uma Vez em Porto Alegre, que teve o seu episódio de estreia em 13 de maio de 2005. O assunto da largada foi Lupicínio Rodrigues.
Na atração, que era veiculada todo sábado, ele narrava histórias das ruas e dos bairros da Capital, mas também de seus personagens antológicos, com roteiro de Silvana Pires e Giane Guerra. Tudo se mistura na construção narrativa da cidade, que é feita com humor pelo artista.
— Sempre fui apaixonado por Porto Alegre, sou tri bairrista. E comecei a ficar encantado com as histórias que eu recebi, porque as gurias foram a fundo em histórias que eu nunca tinha ouvido falar. Uma vez, chegamos a encenar os crimes da Rua do Arvoredo, como se fosse uma radionovela. Foi um sucesso — recorda Zé Adão.
Na peça, durante cerca de uma hora, o ator ainda passará por relatos sobre o Bataclan, alter ego de Cândido José dos Santos, um propagandista de rua que se tornou um dos personagens mais populares da cidade; Gilda Marinho, uma pelotense que quebrou tabus do comportamento feminino; e o Seu Tristeza, que deu nome ao bairro.
— Era impossível falar de todos os bairros. Temos uns maravilhosos. Então, tive que escolher. Tristeza, por exemplo, era a chácara do Seu Tristeza. Ele era chamado assim porque tinha perdido o filho, a filha tinha casado e abandonado ele e a mulher era um demônio. Então, ele era um homem muito cabisbaixo, conhecido como Seu Tristeza. A pessoas diziam: "Vamos lá no Seu Tristeza". E acabou virando o nome do bairro. Esta história será contada no palco — antecipa o ator.
O poder do microfone
Zé Adão garante que, volta e meia, ao entrar em um carro de aplicativo e conversar com o motorista, ouve a seguinte frase: "Não era tu que apresentava o programa das histórias de Porto Alegre?". De acordo com o ator, a atração era um sucesso e muito querida pelo público.
Na adaptação para o palco, as histórias são entremeadas por trabalhos de poetas gaúchos e por conhecidas canções porto-alegrenses. A montagem, de acordo com o ator e diretor, mescla sensibilidade e diversão ao reviver a cultura e os mitos locais. Tudo isso acompanhado de fotos e ilustrações, que serão exibidas durante a apresentação. Mesmo que seja uma releitura do programa radiofônico, Zé Adão precisou fazer um árduo trabalho de pesquisa:
— Os roteiros acabaram se perdendo. Decidi ir atrás. Durante os últimos seis meses, a minha vida foi pesquisar tudo isso. E estou ensaiando já há dois meses, sozinho. Então, farei esta apresentação no Porto Alegre em Cena, mas não vou fazer uma só e parar. Esta é uma história que eu acho que a cidade inteira tem que ver.
Além de sua dedicação a Histórias de um Porto Alegre, que ele pretende levar para outros palcos, o ator considera uma boa ideia o desenvolvimento de um podcast, revivendo o formato consagrado na Rádio Gaúcha. Demonstrando nenhuma vontade de desacelerar aos 45 anos de carreira, Zé Adão trabalha paralelamente em outros projetos.
Recentemente, na Feira do Livro de Porto Alegre, ele fez uma leitura dramática da peça Nausícaa, de autoria de Gilberto Schwartsmann, dramaturgo com o qual vem colaborando frequentemente. Além disso, está trabalhando em um show com músicas de filmes de Pedro Almodóvar e poemas de autoras espanholas. Ou seja, ele não para. E a arte de Porto Alegre agradece por isso.
Histórias de um Porto Alegre
- Nesta quarta-feira (27), às 19h, no Teatro do Instituto Goethe (Rua 24 de Outubro, 112 — Moinhos de Vento), em Porto Alegre
- Ingressos a R$ 40 (inteira), à venda online na Sympla e presencialmente no térreo da Casa de Cultura Mario Quintana (Rua dos Andradas, 736), do meio-dia às 20h, em Porto Alegre.
- Acessibilidade: Libras.
- Classificação indicativa: 12 anos.