Quando o Grupo Corpo estava prestes a completar 45 anos, um convite surgiu feito um presente. O maestro venezuelano Gustavo Dudamel, regente da Orquestra Filarmônica de Los Angeles, pediu que a companhia de dança contemporânea sediada em Minas Gerais criasse uma coreografia baseada na peça Estancia, do compositor argentino Alberto Ginastera (1916-1983).
Era o ano de 2020 e a pandemia retardou que o projeto mais desafiador do Grupo Corpo, um dos maiores grupos de dança da América Latina, fosse colocado em prática. Mas a página virou, e os 22 bailarinos orientados pelo diretor artístico Paulo Pederneiras e pelo coreógrafo Rodrigo Pederneiras estrearam em 2023 no palco do Hollywood Bowl, dividindo espaço com Dudamel e os músicos da Filarmônica de Los Angeles.
— Depois que a pandemia acabou, Dudamel reiterou o convite para o Grupo Corpo. Fizemos um espetáculo alucinante para 16 mil pessoas em Los Angeles, com aquela sonoridade da orquestra atrás. Quando uma orquestra toca ao vivo para um espetáculo de dança, geralmente fica no fosso do teatro. Nesse caso, não. Os dois ficam no palco. É uma coisa completamente nova. Foi ótimo — relata Rodrigo Pederneiras.
Maestro da Orquestra Sinfônica de Porto Alegre (Ospa), Evandro Matté encantou-se com o espetáculo inovador que mistura dança contemporânea e música sinfônica e questionou sobre a possibilidade de trazê-lo para o Brasil. Ficou sabendo que o Grupo Corpo já havia combinado apresentações com a Filarmônica de Minas Gerais e com a Orquestra Sinfônica do Estado de São Paulo (Osesp), que ocorreram no primeiro semestre deste ano.
Chegou a vez de recebê-lo em Porto Alegre. Com Matté e 85 músicos da Ospa no palco, os bailarinos do Grupo Corpo irão se apresentar na Sala Sinfônica da Casa da Ospa neste sábado (28), às 17h, e no domingo (29), às 18h. Os ingressos já estão esgotados.
— Colocar uma das grandes orquestras da América Latina, que é a Ospa, com um dos grandes grupos de dança no palco é algo que não acontece todo dia. São dois grupos altamente qualificados fazendo arte — diz Matté.
Um dos mais populares compositores eruditos latino-americanos, equiparado a Heitor Villa-Lobos, Ginastera compôs música para teatro, concerto para piano, música de câmara, balé e outros gêneros. O balé Estancia, de 1941, é baseado no poema El Gaucho Martín Fierro, de José Hernández. Exemplar icônico da literatura sul-americana, o texto versa sobre a vida no campo e exalta a figura do gaucho corajoso nos pampas argentinos.
Ao criar a dança para a peça, Pederneiras preferiu não ser exato, evitando criar passos e gestos que representem explicitamente toda a história.
— É um dia de um gaucho na fazenda, com as vacas e as galinhas, tocando sua viola. Achei melhor não ser descritivo. Primeiro que eu não gosto muito de pensar na dança como uma arte que conte uma história com início, meio e fim, além de personagens exatos. Preferi me concentrar na música, que é poderosíssima. Obviamente que a dança traz referências, como passos do malambo (sapateado tipicamente argentino). Mas a história mesmo eu preferi deixar de lado e priorizar a música — diz.
O barítono Licio Bruno ficará encarregado de narrar partes do texto de Estancia. Além da peça de Ginastera, o Grupo Corpo também encenará Dança Sinfônica, que revisita trechos memoráveis de trabalhos anteriores da companhia de dança, com trilha criada pelo compositor Marco Antônio Guimarães. Outras duas peças serão executadas pela Ospa sem que os bailarinos entrem em cena: Batuque, do compositor nacionalista cearense Alberto Nepomuceno (1864-1920), e Danzón nº 2, do compositor mexicano Arturo Márquez.
Orquestra Sinfônica de Porto Alegre e Grupo Corpo
- Neste sábado (28), às 17h, e domingo (29), às 18h.
- Complexo Cultural Casa da Ospa no Centro Administrativo Fernando Ferrari (Av. Borges de Medeiros, 1.501), em Porto Alegre.
- Ingressos esgotados.