Após quatro espetáculos terem sido desclassificados do Prêmio Açorianos de Teatro Adulto por ausência da comissão julgadora para avaliar as peças, os artistas e a Coordenação de Artes Cênicas da Secretaria Municipal de Cultura e Economia Criativa (SMCEC) se reuniram no final da tarde de quinta-feira (10), em busca de um acordo entre as partes. Um acerto, porém, não foi concretizado.
Segundo o coordenador de Artes Cênicas, Jessé Oliveira, houve um pedido de desculpas da parte dele aos artistas dos quatro espetáculos e, depois, foram elencadas todas as possibilidades de solução do impasse. Foram sugeridos o cancelamento desta parte do prêmio, a garantia de uma pequena temporada de apresentações em 2023, com ajuda de custo e uma nova apresentação para os jurados que não assistiram às peças.
— A gente também deixou em aberto para outras possibilidades, mas não teve nenhum acordo em relação a isso. Obviamente, a gente pensa no prejuízo, no impacto que isso tem para eles. E isso não é a primeira vez que acontece. Eu mesmo, como artista, já passei por isso. Não estou colocando isso aqui para minimizar, mas para contextualizar — diz Oliveira. — Reconhecemos que houve um problema, mas tomamos uma atitude de diálogo, que se apresenta nova, que não ocorreu em outros momentos.
O coordenador de Artes Cênicas apontou que, então, foi ampliado o prazo de recursos para os quatro espetáculos prejudicados até a próxima quarta-feira (16) — para os demais, segue de acordo com o edital, até a segunda-feira (14). O resultado final dos indicados ao prêmio deve ser divulgado na sexta-feira (18). As peças que não foram assistidas por pelo menos três dos cinco jurados — número mínimo para ser considerado pelos organizadores do prêmio — são: Um Fascista no Divã, Sobrevivo: Antes Que o Baile Acabe, Sobrevida e Fica, Vai Ter Bolo.
Os artistas
Alexandre Dill, diretor do GrupoJogo, responsável por Um Fascista no Divã, destacou que a primeira oferta por parte da Coordenação de Artes Cênicas foi a realização de uma apresentação para os jurados, com o objetivo de colocar as peças ao lado das demais e, assim, concorrendo ao Prêmio Açorianos.
— A nossa resposta foi negativa, porque a gente não acredita que esse júri tenha legitimidade de cumprir um acordo que já não foi cumprido — explica Dill. — A segunda alternativa foi oferecer para a gente, no ano que vem, duas semanas no teatro e mais uma ajuda de custo. Só que a gente ficou um pouco perplexo com essa proposta, porque isso pareceu um suborno, para virar a página.
Dill ainda apontou que a Coordenação de Artes Cênicas tentou colocar toda a responsabilidade em cima da comissão julgadora, mas, de acordo com o edital, cabe ao órgão fiscalizar a ação dos jurados. O diretor do GrupoJogo ainda apontou que a carta enviada aos quatro grupos foi redigida pelos próprios avaliadores, que criaram uma regra que não existe no edital: "desclassificar um concorrente por irresponsabilidade ou por incapacidade deles mesmos".
— A gente não aceitou nenhuma das propostas, porque a gente entrou com recurso pedindo a impugnação desse edital e que seja chamada uma nova comissão, responsável, inidônea e que cumpra com o contrato assinado com a prefeitura — afirma Dill. — A gente vai entrar também com um processo por danos morais, por danos financeiros e por danos pessoais, porque os danos que isso está sendo causado dentro da equipe são irreparáveis.
Jaques Machado, diretor da peça Sobrevida, afirmou que encaminhou o recurso ainda na quinta-feira, pedindo a anulação do edital e o cancelamento do prêmio:
— A proposta de redução do prejuízo feita por eles nos pareceu que é aceitar que as irregularidades aconteceram e não fazer nada.
Qex Bittencourt, diretora, dramaturga e produtora do espetáculo Fica, Vai Ter Bolo, destacou que segue os passos de seus colegas e enviou recurso também na quinta, por não aceitar irregularidades do edital.
— Reafirmo que três espetáculos foram assistidos por um único jurado e outro por nenhum e não por dois, como a Coordenação de Artes Cênicas está falando. Ontem, ficou evidente a falta de comprometimento e organização por parte deles, juntamente ao corpo de jurados — explica Qex.
GZH ainda procurou a cofundadora da Espiralar Encruza, Maya Marqz, responsável pelo espetáculo Sobrevivo: Antes Que o Baile Acabe, mas não conseguiu contato até o fechamento deste texto.