A lenda do teatro contemporâneo Peter Brook, um dos diretores mais influentes do século 20, morreu neste sábado (2), aos 97 anos.
O professor de teatro de origem britânica, que passou grande parte de sua carreira na França dirigindo o teatro parisiense Les Bouffes du Nord, reinventou a arte da direção teatral ao privilegiar formas sóbrias sobre os cenários tradicionais.
Brook teve quatro espetáculo apresentados no festival Porto Alegre em Cena: Le Costume (em 2000); Happy Days (2005), montagem de peça de Samuel Beckett; O Grande Inquisidor (2008), baseado em capítulo de Os Irmãos Karamázov, de Dostoiévski; e Uma Flauta Mágica (2011), encenação da ópera de Mozart, acompanhada ao piano.
– Peter Brook era um gigante das artes cênicas. Silêncio. Aplausos. Gratidão – declara o diretor teatral gaúcho Luciano Alabarse, idealizador do POA em Cena e coordenador-geral do festival naquelas ocasiões.
O criador também teve diferentes livros publicados no Brasil, como O Espaço Vazio (publicado pela Orfeu Negro e também pela Apicuri, ambas edições esgotadas), Reflexões sobre Shakespeare (Edições Sesc), Não Há Segredos: Reflexões Sobre Atuação e Teatro (Via Lettera Editora) e Na Ponta da Língua: Reflexões sobre Linguagem e Sentido (Edições Sesc).
Nascido em Londres em 21 de março de 1925, filho de imigrantes lituanos judeus, assinou sua primeira produção aos 17 anos. Durante sua carreira, liderou importantes instituições como a Royal Opera House e o Royal Shakespeare Theatre, além dos franceses Les Bouffes du Nord e Centro Internacional de Criações Teatrais (CICT).
Artista com experiência em ópera, cinema e crítica teatral, Brook se estabeleceu em Paris em 1971. Muitas vezes comparado a Stanislavski (1863-1938) que revolucionou a atuação, Peter Brook é o teórico do "espaço vazio", uma espécie de bíblia para o mundo do teatro, publicado pela primeira vez em 1968.
"Posso pegar qualquer espaço vazio e chamá-lo de palco. Alguém atravessa esse espaço vazio enquanto outro assiste, e isso é o suficiente para começar o ato teatral": essas famosas primeiras linhas se tornaram um "manifesto" para um teatro alternativo e experimental.
Sua obra mais conhecida é O Mahabharata, um épico de nove horas da mitologia hindu, criado em 1985 e adaptado ao cinema em 1989. No teatro, dirigiu atores como Laurence Olivier e Orson Welles. Depois de uma aventura de mais de 35 anos no Bouffes du Nord, Brook deixou a direção do teatro em 2010, aos 85 anos, continuando a assinar produções.
— Em toda a minha vida, a única coisa que sempre contou, e é por isso que trabalho no teatro, é o que vive diretamente no presente — disse à AFP na ocasião.
O carismático diretor sofreu um grande baque em 2015 com a morte de sua esposa, a atriz Natasha Parry.
Em 2019, Brook foi condecorado na Espanha com o Prêmio Princesa das Astúrias das Artes na condição de "mestre de gerações". "Considerado o melhor diretor teatral do século 20, (Brook) abriu novos horizontes na dramaturgia contemporânea ao contribuir decisivamente para a troca de conhecimentos entre culturas tão diferentes como as da Europa, África e Ásia", afirmou o júri ao fundamentar a sua decisão.