Gracindo é um professor já idoso e abalado pela morte de sua amada esposa. Cadu – ou melhor, a drag queen Emma Bovary – é seu filho, com quem Gracindo cortou relações após descobrir sua orientação sexual. Trazendo aos holofotes o preconceito e as relações familiares, a peça A Vela tem sessões no Theatro São Pedro (Praça Marechal Deodoro, s/n°), em Porto Alegre, nesta sexta e no sábado, às 21h, e no domingo, às 18h, com ingressos a partir de R$ 50, à venda pelo Sympla (há desconto de 50% para sócios do Clube do Assinante e um acompanhante). No elenco, estão Herson Capri (como o pai) e Leandro Luna (filho).
A Vela recebe este nome devido a um ultimato que acontece na peça. Sentindo-se sozinho, Gracindo decide ir para um asilo, mas fica sem energia elétrica e precisa fazer as malas com o auxílio da luz de uma vela. Mal sabe ele que quem chegará para ajudá-lo será o filho que não via há tanto tempo. Embora Cadu queira fazer as pazes, ele também é categórico: só ficará para conversar com o pai durante o tempo de uma vela se consumir.
O texto é de Raphael Gama, que apresentou sua obra ao diretor Elias Andreato tempos atrás. Assim que leu, Andreato foi impactado pelo tema que desafia um Brasil ainda tão conservador.
— No momento em que nós, artistas, somos praticamente sacrificados por este governo, com todos os preconceitos que ele já deixou bem explícito, o fato de você colocar um tema desses em cena é um ato político, de resistência, de valorização dos nossos princípios. Talvez a gente não sofra a tortura física, mas essa tortura psicológica diária também é muito cruel — afirma o diretor.
Herson Capri, que tem quase 50 anos de carreira e recentemente esteve nos cinemas com Marighella, também percebeu a urgência do tema e imaginou que seria uma obra inesquecível:
— É uma das melhores peças da dramaturgia que eu já fiz.
Intimidade
Sem muitos móveis, com uma vela e uma conversa a dois. Apesar de Capri já ter estrelado grandes produções, esta é a prova de que intimidade também pode ser a chave para que uma peça toque profundamente seus envolvidos e a plateia. Tendo recentemente voltado às sessões presenciais, o ator sequer esperava tanta comoção do público e diz não se lembrar de quando ouviu tantos aplausos como quando estreou A Vela no Rio de Janeiro, neste ano. Ele lembra:
— Muitas pessoas vieram falar com a gente. Alguns pais mais velhos se emocionam muito e se identificam com o comportamento deles com seus filhos. Muitos homens me falavam: “Meu pai era igualzinho ao teu personagem”.
Encarnando o controverso pai, Capri conta que teve uma criação que considera bastante progressista e que seu pai, mesmo tendo nascido em 1931, deu muita abertura para que o filho entendesse a importância de acolher as pessoas com suas diferenças.
Para quem já viu A Vela em formato digital na sua estreia, em 2021, Capri recomenda: vale a pena, sim, ver de novo. Quem assistir à experiência da peça ao vivo terá a chance de ver um espetáculo “muito melhor” do que a obra da tela, conforme o ator. No fechar das cortinas, fica com a plateia um aprendizado sobre amor e acolhimento. Andreato, o diretor, conclui:
— Passamos dois anos falando sobre a morte e agora estamos tentando falar que reflexão isso nos trouxe. Talvez tenhamos que viver de uma forma mais amorosa.