Atualização: as apresentações de "Meu Quintal É Maior do que o Mundo", que ocorreriam em Porto Alegre nesta sexta-feira e sábado, foram canceladas após Cássia Kis apresentar problemas respiratórios. Os espectadores podem pedir reembolso a partir desta sexta-feira. A peça teria duas sessões neste fim de semana, no Theatro São Pedro, como publicado entre 19h13min e 20h51min de 12 de março. O texto já foi atualizado.
A atriz Cássia Kis tem uma lembrança visceral e onírica associada à obra de Manoel de Barros (1916-2014). Em 1990, quando trabalhava na novela Pantanal, escrita por Benedito Ruy Barbosa e gravada em locações na própria imensidão pantaneira, ela teve um encontro inusitado com uma coletânea informal dos trabalhos do poeta.
– Eu já havia lido algumas coisas dele, já havia sido mordida pela sua poesia, ele na época ainda era um poeta meio escondido, meio obscuro. E me lembro de estar em uma daquelas cabines em que há rádio para você se comunicar com as pessoas. Fiquei presa lá porque chovia a cântaros, aquela imensidão, aquele horizonte. E achei ali um calhamaço de papel, quase uma apostila, que dizia na frente “Obra quase completa de Manoel de Barros”. Fiquei lendo e sabia que teria que fazer alguma coisa com aquela obra.
O impulso só se realizou quase três décadas depois: Cássia Kis apresenta o resultado desse enamoramento, Meu Quintal É Maior do que o Mundo, um espetáculo em que ela enfileira numa espécie de roteiro 18 poemas extraídos do livro Memórias Inventadas, relatos memorialísticos escritos em prosa poética e publicados originalmente pelo autor em três partes, entre 2003 e 2006. As sessões ocorreriam nesta sexta-feira e sábado, em Porto Alegre, mas foram canceladas.
– Em 2018, fazia uns 10 anos que eu não pisava em um palco, a última havia sido a temporada de O Zoológico de Vidro, de Tennessee Williams, em 2009. Foi aí que pensei que havia chegado a hora de montar de uma vez Manoel de Barros. Fui à casa da filha dele (a artista visual Martha Barros), que é minha amiga. Saí da casa dela com esse livro na mão – conta Cássia.
A atriz convidou o diretor Ulysses Cruz para dirigir a montagem. Depois de um período de estudo sobre a obra, ambos deram forma à montagem que foi encenada pela primeira vez em São Paulo, em janeiro do ano passado.
– Estreamos o espetáculo em São Paulo, no Sesi da Paulista. E ali a gente soube que o material estava bom. A gente só sabe o que fez depois de ver a reposta do público. E o público de fato fica encantado. Um encantamento que não é imotivado, a palavra de Manoel chega na cabeça, no coração.
Meu Quintal É Maior do que o Mundo aposta em uma cenografia concisa e minimalista para enfatizar a palavra de Manoel. Um tapete no palco faz as vezes do “quintal” enquanto a iluminação e a música destacam as histórias poéticas contadas por quatro personagens interpretados por Cássia: um menino de cinco anos, um jovem de 15, um homem de 40 e um idoso de 85. Como Memórias Inventadas, mais do que um livro de poemas, é um relato memorialístico, os causos ali contados são extraídos da vida do próprio poeta. Os personagens, portanto, são facetas diversas da vida do autor, e é um pouco o próprio Manoel que Cássia interpreta em diferentes etapas de vida.
– Convivi com ele. Estive muito perto dele, vi aquele homem. Mas depois desses anos, da morte dele, mais madura, é que sinto que realmente compreendo hoje a obra dele. Precisei de 30 anos para isso – afirma.
Meu Quintal É Maior do que o Mundo
Sessões desta sexta-feira (13) e sábado (14) foram canceladas.
Espectadores podem pedir reembolso na bilheteria do Theatro São Pedro (ou na plataforma on-line, caso o site tenha sido comprado virtualmente) a partir desta sexta-feira.